Margarida pegou delicadamente no frasco do seu perfume predilecto e deixou cair duas gotas desse perfume, em cima de uma folha de papel, onde ela acabara de escrever um poema de amor, que seria entregue... ao destino.
A extrema timidez e insegurança, fizeram de Margarida uma mulher sentimentalmente só.
“Resta-me sonhar” – costumava dizer ela às amigas, já quase todas casadas e com filhos.
Seguindo um ritual que criara há algumas semanas, Margarida atirou a folha perfumada pela janela do seu quarto, ficando depois a olhar para ela, até a perder de vista.
Secretamente, Margarida tem esperança que o vento se encarregue de levar aquelas palavras de amor, até às mãos do seu príncipe encantado.
Não muito distante dali, Miguel olhou uma última vez, para a fria carta de despedimento, depois dirigiu a sombria tristeza para a forte corrente do rio, que passava por baixo daquela velha ponte.
Precisamente no momento em que Miguel ia desistir de tudo, um capricho do vento, ou talvez do destino, fez com que a folha escrita por Margarida, fosse aterrar junto dos pés de Miguel.
O doce aroma emanado por aquele pequeno papel, fez com que Miguel pegasse nele.
As palavras repletas de encantamento, derramadas por Margarida naquele pedaço de esperança, tocaram profundamente o coração de Miguel.
Pouco tempo depois, o jovem homem virou costas ao terrível propósito que o tinha arrastado até àquele inóspito local e agarrando-se à folha, como se de uma bóia de salvamento se tratasse, jurou que iria tentar encontrar o autor daqueles versos, pois foram eles que lhe salvaram a vida.
Miguel apostou na sorte... talvez se caminhasse contra a direcção do vento encontrasse alguma espécie de pista, pensou ele.
Irónico, o mesmo vento que lhe trouxe esperança, transformou-se naquele momento, num obstáculo.
A busca de Miguel resultou infrutífera. Contudo, ele não estava disposto a ceder facilmente.
Nos dias que se seguiram ele retornou à velha ponte, esperando que o vento voltasse a trazer nas suas marés, novos pedaços de ilusão.
Numa dessas ocasiões, Miguel avistou uma criança a brincar com um barco de papel, junto à margem do rio.
Os pais da criança, sentados na relva, conversavam distraidamente quando o barco do filho se afastou. O miúdo correu para tentar agarrá-lo, desequilibrou-se e caiu no rio.
Miguel lançou-se imediatamente à água, salvando o rapaz, que entretanto conseguira agarrar o barco de papel.
O pai da criança, muito aflito, agradeceu a Miguel o gesto heróico e deu-lhe um cartão de apresentação, dizendo depois que caso Miguel precisasse algum dia, de alguma coisa, para o contactar.
Quando Miguel se despediu do miúdo, este sorriu e deu-lhe o barco de papel.
Já sozinho, Miguel olhou com curiosidade para o tosco barco e notou que nele estavam escritas palavras... palavras que lhe pareceram familiares.
Miguel não teve dúvidas, aquele era mais um dos poemas escritos pela pessoa que ele procurava. Seria aquilo um sinal?
Inesperadamente, uma sorrateira rajada de vento roubou-lhe o papel das mãos.
Miguel correu atrás da pequena folha e nessa altura cruzou-se com uma pessoa .... uma mulher!
O perfume dela fez com que Miguel parasse de correr... aquele cheiro também lhe era familiar.
Durante alguns instantes, Miguel ficou na dúvida entre tentar conversar com aquela mulher que caminhava cabisbaixa, ou continuar a seguir o poema.
Miguel optou pela segunda hipótese.
O tempo, curador de males e insensível na mesma dose, foi passando... decorreram duas semanas desde aquele episódio.
Durante esses dias, Miguel não encontrou uma palavra que fosse de Margarida.
Ele achou que estava na hora de seguir em frente com a vida, encheu os pulmões de coragem e marcou uma reunião com o Dr. Aguiar, o pai do miúdo que ele tinha salvo de se afogar... um novo emprego, era agora o objectivo de Miguel.
Na reunião, Dr. Aguiar disse que Miguel estava com sorte pois tinha surgido recentemente uma inesperada vaga na empresa.
Miguel ficou encantado com a notícia.
Amavelmente, Dr. Aguiar levou Miguel a conhecer o gabinete que ficara disponível.
Assim que lá entrou, Miguel sentiu no ar uma fragrância conhecida... era a mesma emanada pelas folhas escritas por Margarida ... intrigado, Miguel perguntou o que tinha acontecido à pessoa que deixara de trabalhar ali.
Dr. Aguiar “fechou a cara”, com uma voz pesarosa, contou que essa pessoa tinha tido um final trágico... suicidara-se, atirando-se de uma ponte... precisamente no dia, e no local, onde o Dr. Aguiar e Miguel se tinham conhecido.
Uma lança afiada, pareceu trespassar o coração de Miguel naquele momento! Ele ficou pálido e teve de se sentar.
A sua memória foi iluminada por relâmpagos de imagens... imagens difusas da mulher que ele tinha visto a dirigir-se para a ponte naquele dia.
Alarmado com o estado de Miguel, o Dr. Aguiar apressou-se a ir buscar um copo com água.
Miguel não esperou ... movido por uma inesperada e incontrolável força levantou-se, saiu daquele lugar a correr e só parou em cima da velha ponte.
A vida tem coisas curiosas, o mesmo local pode significar o começo ou o fim, a esperança ou a desistência.
Miguel ergueu o olhar para o céu, talvez tentando encontrar alguém a quem deitar as culpas.
Sorriu ironicamente, pegando depois na folha de papel, com o último poema de Margarida que havia encontrado.
Num movimento de raiva, ele tentou atirar a folha ao rio, mas o vento não o permitiu, uma estranha corrente de ar elevou a folha e fez com ela fosse “bailando” suavemente até perto de uma mulher... a mulher tinha estado a observar Miguel.
Ele olhou para ela e viu-a a pegar na folha. Ela leu o poema.
Surpreendido, Miguel viu depois essa mulher a aproximar-se dele com a folha na mão.
Em cima da ponte e parecendo que o vento os estava a unir, a mulher timidamente apresentou-se.
O nome dela era Margarida ... a autora daquele poema.
A extrema timidez e insegurança, fizeram de Margarida uma mulher sentimentalmente só.
“Resta-me sonhar” – costumava dizer ela às amigas, já quase todas casadas e com filhos.
Seguindo um ritual que criara há algumas semanas, Margarida atirou a folha perfumada pela janela do seu quarto, ficando depois a olhar para ela, até a perder de vista.
Secretamente, Margarida tem esperança que o vento se encarregue de levar aquelas palavras de amor, até às mãos do seu príncipe encantado.
Não muito distante dali, Miguel olhou uma última vez, para a fria carta de despedimento, depois dirigiu a sombria tristeza para a forte corrente do rio, que passava por baixo daquela velha ponte.
Precisamente no momento em que Miguel ia desistir de tudo, um capricho do vento, ou talvez do destino, fez com que a folha escrita por Margarida, fosse aterrar junto dos pés de Miguel.
O doce aroma emanado por aquele pequeno papel, fez com que Miguel pegasse nele.
As palavras repletas de encantamento, derramadas por Margarida naquele pedaço de esperança, tocaram profundamente o coração de Miguel.
Pouco tempo depois, o jovem homem virou costas ao terrível propósito que o tinha arrastado até àquele inóspito local e agarrando-se à folha, como se de uma bóia de salvamento se tratasse, jurou que iria tentar encontrar o autor daqueles versos, pois foram eles que lhe salvaram a vida.
Miguel apostou na sorte... talvez se caminhasse contra a direcção do vento encontrasse alguma espécie de pista, pensou ele.
Irónico, o mesmo vento que lhe trouxe esperança, transformou-se naquele momento, num obstáculo.
A busca de Miguel resultou infrutífera. Contudo, ele não estava disposto a ceder facilmente.
Nos dias que se seguiram ele retornou à velha ponte, esperando que o vento voltasse a trazer nas suas marés, novos pedaços de ilusão.
Numa dessas ocasiões, Miguel avistou uma criança a brincar com um barco de papel, junto à margem do rio.
Os pais da criança, sentados na relva, conversavam distraidamente quando o barco do filho se afastou. O miúdo correu para tentar agarrá-lo, desequilibrou-se e caiu no rio.
Miguel lançou-se imediatamente à água, salvando o rapaz, que entretanto conseguira agarrar o barco de papel.
O pai da criança, muito aflito, agradeceu a Miguel o gesto heróico e deu-lhe um cartão de apresentação, dizendo depois que caso Miguel precisasse algum dia, de alguma coisa, para o contactar.
Quando Miguel se despediu do miúdo, este sorriu e deu-lhe o barco de papel.
Já sozinho, Miguel olhou com curiosidade para o tosco barco e notou que nele estavam escritas palavras... palavras que lhe pareceram familiares.
Miguel não teve dúvidas, aquele era mais um dos poemas escritos pela pessoa que ele procurava. Seria aquilo um sinal?
Inesperadamente, uma sorrateira rajada de vento roubou-lhe o papel das mãos.
Miguel correu atrás da pequena folha e nessa altura cruzou-se com uma pessoa .... uma mulher!
O perfume dela fez com que Miguel parasse de correr... aquele cheiro também lhe era familiar.
Durante alguns instantes, Miguel ficou na dúvida entre tentar conversar com aquela mulher que caminhava cabisbaixa, ou continuar a seguir o poema.
Miguel optou pela segunda hipótese.
O tempo, curador de males e insensível na mesma dose, foi passando... decorreram duas semanas desde aquele episódio.
Durante esses dias, Miguel não encontrou uma palavra que fosse de Margarida.
Ele achou que estava na hora de seguir em frente com a vida, encheu os pulmões de coragem e marcou uma reunião com o Dr. Aguiar, o pai do miúdo que ele tinha salvo de se afogar... um novo emprego, era agora o objectivo de Miguel.
Na reunião, Dr. Aguiar disse que Miguel estava com sorte pois tinha surgido recentemente uma inesperada vaga na empresa.
Miguel ficou encantado com a notícia.
Amavelmente, Dr. Aguiar levou Miguel a conhecer o gabinete que ficara disponível.
Assim que lá entrou, Miguel sentiu no ar uma fragrância conhecida... era a mesma emanada pelas folhas escritas por Margarida ... intrigado, Miguel perguntou o que tinha acontecido à pessoa que deixara de trabalhar ali.
Dr. Aguiar “fechou a cara”, com uma voz pesarosa, contou que essa pessoa tinha tido um final trágico... suicidara-se, atirando-se de uma ponte... precisamente no dia, e no local, onde o Dr. Aguiar e Miguel se tinham conhecido.
Uma lança afiada, pareceu trespassar o coração de Miguel naquele momento! Ele ficou pálido e teve de se sentar.
A sua memória foi iluminada por relâmpagos de imagens... imagens difusas da mulher que ele tinha visto a dirigir-se para a ponte naquele dia.
Alarmado com o estado de Miguel, o Dr. Aguiar apressou-se a ir buscar um copo com água.
Miguel não esperou ... movido por uma inesperada e incontrolável força levantou-se, saiu daquele lugar a correr e só parou em cima da velha ponte.
A vida tem coisas curiosas, o mesmo local pode significar o começo ou o fim, a esperança ou a desistência.
Miguel ergueu o olhar para o céu, talvez tentando encontrar alguém a quem deitar as culpas.
Sorriu ironicamente, pegando depois na folha de papel, com o último poema de Margarida que havia encontrado.
Num movimento de raiva, ele tentou atirar a folha ao rio, mas o vento não o permitiu, uma estranha corrente de ar elevou a folha e fez com ela fosse “bailando” suavemente até perto de uma mulher... a mulher tinha estado a observar Miguel.
Ele olhou para ela e viu-a a pegar na folha. Ela leu o poema.
Surpreendido, Miguel viu depois essa mulher a aproximar-se dele com a folha na mão.
Em cima da ponte e parecendo que o vento os estava a unir, a mulher timidamente apresentou-se.
O nome dela era Margarida ... a autora daquele poema.
(voz de @vilmacorreia)
11 comentários:
Estória linda, como todas as estórias de amor o são! Obrigada por me deixar espreitar esse coração sensível.
Cada vez que passo por aqui fico mais tocada.
Aliás, a ilustração está linda!
A cada parágrafo encontrei uma frase de destaque, e gostei especialmente dessa: 'O tempo, curador de males e insensível na mesma dose, foi passando...'
Uma gostosura lê-lo!
www.relicariovazio.blogspot.com
Pude ter o privilégio de ler a história antes de ser publicada.
enquanto a lia, a minha mente imagina a ponte, a folha, o vento, as expressões dos rostos do Miguel e da Margarida.
Sentia um aperto por pensar num final dramático.
Mas fiquei feliz pelo desencontro ter resultado num novo reencontro de ambos... dentro e fora deles!
e a ilustração ao conto está linda!
Obrigada Ruy.
Eu que sou agradecida por poder dar asas à minha imaginação através dos teus contos! :))
Beijinhos e abraços.
Todos os amores encontram-se e se desencontram numa paisagem universal.
O vento é um eco que os chama através das árvores para revelar a vida.
Mesmo que seja em pequenos pedaços de esperança, cria-se o vínculo.
Doam-se histórias de encantamentos...
Oi Ruy!
Li, reli, suspirei...
Que mulher nunca se sentiu um pouco "Margarida"?
Queria muito dizer pra ela,
Minha doce margarida:
Acredite ainda no dom do amor.
Você merece isso em sua vida, pois nada pode ser mais pleno do que o próprio amor.
Linda história.
Beijos
Rosamaria
Gosto sempre deste tipo de histórias que tu escreves, histórias mais elaboradas :-) Margarida... gosto do nome. Faz-me lembrar as minhas flores favoritas! Bom trabalho compatriota.
(Boa malha miúdo! Gostei da (re)leitura...) ;)
Quero saber mais. Continua a história por favor?!
Ele sem saber sabia que o vento guardava para ele muito mais que um papel com algumas palavras e muita poesia O vento guardava a vida que viveria. E foram felizes eternamente...E o vento? Este zelava em silencio pelo amor deles todo o tempo.
Sabes, Ruy...
Foi pela leitura desta história que tive o primeiro contacto com a tua escrita. Já lá vai algum tempo (não muito, dirão alguns); outras histórias, poemas, imagens, resultado do teu talento, se acumularam nesse tempo, mas eu lembro-me, a impressão ficou. É bom recordá-la - eu já o tinha feito algumas vezes (os amores são assim) - e ainda melhor revivê-la na voz da Vilma. Ventos!...
OLha só
não posso ter os olhos cheios de lágrimas durante o expediente.
A partir de agora, só passo aqui após as 18h!
:) Adorei o texto, claro... é lindo.
beijos.
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