26/10/09

História Inacabada


Nota prévia: o seguinte texto soará (espero) melhor, se for lido em voz alta.

Era uma vez um rapazinho, que tinha um sonho: voar sozinho.

“Isso é impossível, ninguém consegue voar!”- alertavam os amigos, enquanto riam sem parar. “Pois um dia, eu vou conseguir!”- respondia o pequeno sempre a sorrir.


O certo é que o tempo passou a voar, e o rapaz cresceu sem o sonho concretizar.


Uma noite o pequeno, entretanto jovem, estava a olhar para o céu estrelado, quando subitamente deu um enorme salto, que quase o fez cair do telhado.

“Claro! É isso, já sei como conseguir.”- gritou o jovem para quem o quis ouvir.

Ele desceu do sitio onde estava empoleirado, e foi dormir, pois estava cansado.

Ainda antes do sol nascer, já os pneus da sua bicicleta, o rapaz estava a encher. Saiu de casa a pedalar rapidamente, apenas com o sonho de voar em mente.

O seu destino era o Monte Das Incertezas, o mais alto que havia naquelas redondezas. Chegou ao topo um pouco estafado, mas com a certeza de que o sonho apenas agora tinha começado.

A vista lá em cima era extasiante, por isso ele decidiu sentar-se por um instante.

Nesse momento, à sua cabeça vieram algumas recordações, lembrou-se de quando tentou voar do cimo de umas escadas, e caiu aos trambolhões. Porém hoje estava seguro que iria conseguir, pegou na fotografia da namorada e começou a sorrir.

“É hoje amor, em breve estarei perto de ti, e vou levar as flores que te prometi.”.

Em seguida, já com as flores na mão, ele aproximou-se do precipício com precaução.

Olhou para o anel que a namorada lhe ofereceu, saltou e ...


Deixo o final desta historia, ao critério de quem a leu, o meu é demasiado triste, pois o rapaz morreu.

18/10/09

A Fórmula


Uma folha em branco, seja ela de papel real ou virtual, é quase sempre sinónimo de angústia para quem não sabe o que escrever.
Por vezes, começa-se violentamente a escrever a primeira coisa que nos vem à cabeça e... mais uma folha para o balde do lixo.
Alguns “Mestres da Escrita”, afirmam que a forma como se inicia é absolutamente determinante, por isso convém não ser precipitado e não escrever a primeira coisa que nos vem à cabeça, por mais genial que essa coisa possa eventualmente parecer.
Convém ter um pouco de calma, reflectir, e se for necessário, respirar fundo...três vezes.
O resultado é espantoso.
Após esta fase Inicial, gostaria de poder dizer que tudo é mais simples, e na realidade até é.
O passo seguinte para a elaboração de um bom texto, seja ele um conto, uma notícia, ou outra coisa qualquer, é a fase Intermédia, ou “Palha”, como carinhosamente eu gosto de lhe chamar.
Esta é a parte que não acrescenta nada de essencial ao Início, e quase nunca é fulcral para o Fim, por isso, é aqui, nesta fase, que são escritas as maiores “barbaridades”. Aqui, a Imaginação de cada um é o limite.
Chega-se, por exclusão de partes, à fase Final.
Aqui é essencial ter calma e recomeçar a pensar um pouco... o ideal era mesmo começar a pensar muito.
Existem teorias que defendem a necessidade de uma pausa, de pelo menos um dia, entre a fase da “Palha” e a fase Final. A razão disto está ligada a uma velha história que é contada desde o tempo dos Romanos, só que essa mesma história é tão comprida (normalmente até maior que a própria história que se pretende contar), que nunca ninguém conseguiu descobrir exactamente o porquê desse dia de descanso.
Por tradição, esse dia ainda hoje é mantido.
Logo após as 24 horas de repouso, tudo parece certamente mais claro e óbvio, em poucos minutos a fase Final fica concluída, basta depois arranjar um motivo para que o “mau” da história sofra um terrível desastre de automóvel (os mais ousados usam aviões)... e morra. Os “bons” casam todos entre eles, e o cãozinho fica a brincar com a miúda que tinha partido a perna.
E todos vivem felizes para sempre!
Qualquer semelhança com o enredo de uma qualquer telenovela NÃO é mera coincidência.

12/10/09

Café Com Todos

Ir ao café é um hábito que a maior parte da população portuguesa faz questão de exercer.
Porém, na minha opinião, o conceito de ir ao café não deveria incluir ter de aturar os filhos dos outros. Não sei porquê, mas alguns pais com filhos que ainda gatinham, pensam que o chão de um café é o sitio ideal para os seus filhos brincarem.

Pessoalmente não acho muito agradável, enquanto tomo o meu simbalino (café), sentir alguém, ou alguma coisa, a puxar-me as pernas das calças... no entanto pior, muito pior, do que ter uma criança a puxar-nos pelas calças, é ter um cão a tentar fornicar com elas (calças), é deveras embaraçoso - e não propriamente para o animal.


Se durante as noites os cafés estão normalmente cheios de homens que se recusam a pagar a Sportv, durante as manhãs o caso muda de figura... experimentem, como eu, tentar ler o “jornal da casa” durante a manhã - é impossível (!) - os bons dos velhinhos ,ou “Máfia da 3ª idade” como eu lhes chamo, não permitem que ninguém estranho à “Família” leia o jornal, sem que este tenha antes sido lido por todos os outros “familiares”.


Tudo isto leva-me a colocar a seguinte questão: “O que seria de grande parte da população se não existissem os cafés?”

Provavelmente teriam de gastar o tempo a fazer alguma coisa realmente útil e interessante, mas isso é uma seca, não é? (Vai um cafézinho?)

05/10/09

Passei?

"Casting", esta palavra, passou – por diversas razões – a fazer cada vez mais parte do nosso vocabulário.
Para a grande parte das pessoas, ela está associada à escolha de actores ou cantores.

Porquê ser tão limitativo? Porque não, por exemplo, alargar a sua função para a escolha de políticos?

Vendo bem as coisas, políticos, actores e cantores fazem todos parte do mesmo ofício, o entretenimento popular.


Visualizem:

Jovem pretendente a político, entra timidamente numa sala sem janelas.

Lá dentro, é aguardado por um júri, composto por cinco políticos, mas estes não são uns políticos banais, têm de ser frios, calculistas, pretensiosos e arrogantes (estes são os predicados exigidos a um político, para conseguir escolher um outro semelhante).

O pretendente, coloca-se em frente dos juizes e aguarda.

Finalmente, é pedido ao jovem para referir qual deve de ser o papel de um político na actual sociedade.


- Ajudar os fracos e oprimidos, dar voz ao Povo, lutar por uma justiça igual para todos independente da raça, credo ou extracto social. Estar no fundo ao serviço do próximo, sem esperar nada em troca. - respondeu de forma segura, o aspirante a político.


Assim que o jovem terminou a resposta, fez-se um silêncio profundo na sala.

O jovem candidato começa a tremer de receio.

Os juizes parecem estátuas.

Subitamente, um dos juizes começa de uma forma lenta e compassada a bater palmas.

Um a um, todos os outros juizes fazem o mesmo, o ritmo das palmas cada vez aumenta mais.

O jovem começa a abrir um ligeiro sorriso nos lábios e resolve perguntar:


- Passei?


Nisto, com uma precisão para lá de matemática, todos os elementos do júri cessam de bater palmas ao mesmo tempo.

Volta o frio silêncio.

O aspirante a político, desta vez, com muito receio, volta a perguntar:


- P- Passei?


O elemento mais velho do júri, decide então falar:


- Passou, jovem amigo, passou. – um ar de alivio surge no rosto do jovem que desta vez exibe um enorme sorriso de orgulho. O jurado continua:


- Passou... passou completamente ao lado. Ajudar os fracos e oprimidos? Dar voz ao Povo? Lutar por uma justiça igual para todos? Você só pode estar a brincar connosco, ou então, enganou-se na sala, o casting para missionários é na sala ao lado. Adeus.


O jovem tenta responder, mas está visivelmente perturbado. – percebe-se.


- Mas... Mas...

- Qual mas! Ponha-se imediatamente na rua homem, e não volte sequer a tentar manchar o bom nome dos políticos. Rua, já disse.


Cabisbaixo, lentamente o jovem caminha na direcção da porta, ainda olhou uma última vez para os juizes, mas em vão.


- Rua. – disseram todos em uníssono.


Apesar deste trauma, o jovem, jurou a si mesmo que um dia ainda havia de conseguir ser político, nem que para isso fosse necessário alterar todos os seus valores morais.


Apraz-me, por fim, dizer que o jovem conseguiu realizar o seu sonho, e é hoje Primeiro-Ministro.