30/11/09

Porque cai a chuva do céu

Não muita gente sabe disto…
Uma das tarefas de um Anjo da Guarda, é encontrar a “cara-metade” do seu protegido.
Os Anjos fazem tudo que está ao seu alcance, para que isso aconteça…
Mas até um Anjo, só pode fazer as coisas, até um determinado grau.

Assim,
Sempre que duas almas gémeas, encaminhadas pelos respectivos Anjos, se cruzam, mas não reparam uma na outra, os Anjos choram…

É por isso que a chuva cai do céu.

(Texto elaborado como resposta ao desafio: Porque cai a chuva do céu?)

25/11/09

O Vento


Margarida pegou delicadamente no frasco do seu perfume predilecto e deixou cair duas gotas dele numa folha de papel onde acabara de escrever um poema de amor destinado ao... destino.
A extrema timidez e insegurança fizeram dela uma mulher sentimentalmente só, “resta-me sonhar” – costumava dizer ela às suas amigas, já quase todas casadas e com filhos.
Seguindo um ritual que criara há algumas semanas, Margarida atirou a folha perfumada pela janela do seu quarto ficando depois a olhar para ela até a perder de vista.
Secretamente Margarida tem a esperança que o vento se encarregue de levar aquelas palavras de amor até ao seu príncipe encantado.

Não muito distante dali, Miguel olhou uma vez mais para a fria carta de despedimento depois direccionou toda a sombria tristeza para a forte corrente do rio que passava por baixo daquela velha e abandonada ponte.
No momento em que Miguel ia a desistir de tudo, um capricho do vento ou do destino, fez com que a folha escrita por Margarida fosse ter aos seus pés.
O doce aroma emanado daquele pequeno papel levou a que Miguel pegasse nele.

As palavras doces e repletas de encantamento derramadas por Margarida naquele pedaço de esperança tocaram profundamente o Miguel.
O jovem homem virou costas ao terrivel propósito que o tinha arrastado até àquele inóspito local e agarrando-se à folha como se de uma bóia de salvamento se tratasse, jurou que iria tentar encontrar o autor ou autora daqueles versos pois foram eles que lhe salvaram a vida.

Miguel apostou na sorte, talvez se caminhasse contra a força do vento encontrasse alguma espécie de pista, pensou ele.
Irónico, o mesmo vento que lhe trouxe a esperança tornou-se naquele momento num obstáculo.
A busca de Miguel resultou infrutífera, contudo ele não estava disposto a ceder facilmente, nos dias que se seguiram ele retornou à velha ponte esperando que o vento voltasse a trazer nas suas marés novos pedaços de ilusão.

Numa dessas ocasiões, Miguel avistou uma criança a brincar com um barco de papel junto à margem do rio.
Os pais da criança, sentados na relva, estavam a conversar distraidamente quando o barco se afastou, o miúdo ao tentar agarrá-lo desequilibrou-se e caiu ao rio.
Vendo aquilo, Miguel lançou-se imediatamente à água e salvou o rapaz que entretanto agarrara o barco.
O pai da criança agradeceu ao Miguel aquele gesto e deu-lhe um cartão dizendo para caso o Miguel precisasse de alguma coisa para o procurar.
Quando Miguel se despediu do miúdo, este sorriu e deu-lhe o barco de papel.
Já sozinho, Miguel começou a olhar com curiosidade para o tosco barco e notou que nele tinham sido escritas palavras, palavras que lhe pareciam familiares, apesar de o papel estar molhado Miguel não teve dúvidas, aquele era mais um dos poemas de Margarida, seria aquilo um sinal?

Inesperadamente uma sorrateira rajada de vento roubou-lhe o papel das mãos, Miguel correu atrás da pequena folha, nessa altura ele cruzou-se com uma pessoa... uma mulher, o perfume dela fez com que Miguel parasse de correr, aquele cheiro era-lhe familiar.
Durante alguns instantes ele ficou na dúvida entre tentar conversar com aquela mulher que caminhava cabisbaixa ou continuar a seguir o poema... Miguel optou pela segunda hipótese.

O tempo, curador de males e insensível na mesma dose foi passando... decorreu uma semana desde aquele episódio.
Durante esses dias Miguel não encontrou uma palavra que fosse de Margarida.
Ele achou que estava na hora de seguir em frente com a vida, encheu os pulmões de coragem e marcou uma reunião com o Dr. Aguiar, pai do miúdo que ele tinha salvo de se afogar, um emprego era agora o objectivo de Miguel.

Na reunião, o Dr. Aguiar disse que Miguel estava com sorte uma vez que tinha surgido recentemente uma inesperada vaga para trabalhar na empresa, Miguel ficou encantado com a notícia.
Amavelmente o Dr. Aguiar levou o Miguel a conhecer o escritório disponível, assim que lá entrou Miguel sentiu no ar uma fragrância conhecida, a mesma emanada das folhas escritas por Margarida, intrigado Miguel perguntou o que tinha acontecido à pessoa que trabalhava ali.
O Dr. Aguiar “fechou a cara” e com uma voz pesarosa contou que essa pessoa tinha tido um final trágico, ela suicidou-se atirando-se de uma ponte, precisamente no dia e no local onde o Dr. Aguiar e o Miguel se tinham conhecido.

Uma lança afiada pareceu trespassar o coração de Miguel naquele momento, ele ficou pálido e teve de se sentar.
A sua memória foi iluminada como que por relâmpagos de imagens difusas da mulher que ele tinha visto a dirigir-se para a ponte naquele dia.
Alarmado com o estado de Miguel, o Dr. Aguiar foi apressadamente buscar um copo com água para o acalmar.
Miguel não esperou... movido por uma inesperada e incontrolável força levantou-se, saiu daquele lugar a correr e só parou em cima da velha ponte.
A vida tem coisas curiosas, o mesmo local pode significar o começo ou o fim, a esperança ou a desistência.
Miguel ergueu o olhar para o céu, talvez tentando encontrar alguém a quem deitar as culpas, sorriu ironicamente e depois pegou na folha de papel com o último poema de Margarida que havia encontrado.

Farto de sonhar, ele tentou atirar a folha ao rio mas o vento não o permitiu, uma estranha corrente de ar elevou-a e fez com ela fosse “bailando” suavemente até perto de uma mulher que estava sentada debaixo de uma árvore a observar o Miguel.
A mulher pegou na folha e leu o poema, Miguel viu depois essa mulher a aproximar-se dele com a folha na mão.
Em cima da ponte e parecendo que o vento os estava a unir, a mulher timidamente apresentou-se, o nome dela era… Margarida, a autora daquele poema.

24/11/09

Traído...


Traído pela tinta da caneta,
O pensamento ficou preso em mim.
Traído pela tinta da caneta,
Porque raio chegaste agora ao fim?
.
Genial,
Esse pensamento poderia ser...
Talvez até brilhante como um cometa,
Mas isso nunca ninguém irá saber,
Porque fui traído pela tinta da caneta.

17/11/09

1000 Coisas


Eu,

Eu podia ter 1000 coisas,
Eu podia pensar em 1000 coisas,
Eu podia ver 1000 coisas,
Eu podia ouvir 1000 coisas,
Eu podia gostar de 1000 coisas.

No entanto,
Eu,
Só te tenho a ti,
Só penso em ti,
Só te vejo a ti,
Só te ouço a ti,
Só gosto de ti.

Porém tu,

Não me queres ter, a mim,
Não pensas em mim,
Não me vês, a mim,
Não me ouves, a mim,
Não gostas de mim.

Por isso,

Vai... pentear macacos, mil macacos,
Vai... dar banho ao cão, mil cães,
Vai... dar uma volta ao bilhar grande, mil voltas,
Vai... caçar gambuzinos, mil gambuzinos,
Vai... encher sacos de nevoeiro, mil sacos.
.
(este texto foi enviado por mim, via email, para uma ex-namorada minha... 1000 vezes enviado)

13/11/09

Rimas Desinspiradas


Doce Inspiração,

Porque Me Abandonaste?

Foi Por Causa Desta Constipação?

Nunca Te Constipaste?



Quero-te Aqui,

Eu Preciso De Ti,

Não Me Deixes Assim,

É Dificil Rimar... Atchim!



... Vês ?

09/11/09

Parábola dos Dois Montes


Todos os dias, quer estivesse sol, chuva, vento, frio ou calor... todos os dias, ininterruptamente, durante 57 anos, um velho homem de 72 anos, subia ao cume do monte mais alto da sua aldeia e sentando-se sempre na mesma pedra, ficava a contemplar em total silêncio o horizonte.

Na realidade o homem concentrava toda a sua atenção num ponto específico: o monte mais alto da aldeia vizinha, onde um outro homem, sensivelmente da mesma idade, realizava o mesmo ritual de subir ao cimo do monte todos os dias.


Religiosamente, os dois homens, passavam duas horas do dia simplesmente a olharem-se ao longe.


As duas aldeias, fartas de não obterem qualquer tipo de explicação para aquele estranho fenómeno, decidiram pôr os dois velhos frente a frente pela primeira vez.

Assim, a meio caminho entre as duas aldeias, e com as respectivas populações presentes em peso, os dois homens foram postos cara a cara.

Todos aguardavam com enorme expectativa pelo desvendar do mistério.


Os dois velhos olharam-se nos olhos... fizeram uma pausa e depois, subitamente, desataram a chorar desalmadamente.


Sabem, apesar de todos aqueles anos, os dois homens nunca se tinham visto de perto, na verdade eles julgavam que a pessoa que estava sentada no outro monte era… uma mulher.


Sem saberem como, nem porquê, os dois apaixonaram-se por aquela imagem.


Eles viveram décadas na ilusão de que “ela” era a mulher das suas vidas, e que mais cedo ou mais tarde, “ela” iria tomar a iniciativa de se aproximar.


Foi um dia duro aquele, para os dois velhos homens, contudo isso também serviu para que eles aprendessem, e ao mesmo tempo ensinassem, uma grande lição de vida: não se pode passar uma vida inteira a fantasiar, às vezes, digo, muitas vezes, é bem melhor tomar a iniciativa e arriscar.




Desde aquele dia, nunca mais ninguém foi visto sentado no cimo daqueles montes… até eu aparecer.

04/11/09

A Mais Pequena História de Natal do Mundo


Era uma vez um velho pedaço de papel reciclado, o seu sonho… sim, os papéis também têm sonhos, mesmo os reciclados. O sonho dele era ser útil.

O velho papel reciclado percorreu milhares de quilómetros, literalmente ao sabor do vento.

Durante essa longa viagem, o pedaço de papel reciclado, viu e ouviu muita coisa... mas de que vale ser um papel, se não se pode escrever nele aquilo que se vive ou viveu?


Certo dia, o já amarelecido pedaço de papel reciclado, ficou preso numa árvore, “é o fim!”- pensou ele.

De facto, que utilidade poderia ter um velho pedaço de papel reciclado no topo de uma árvore?


Pois bem, foi precisamente esse pedaço de papel reciclado, que chamou a atenção de uma criança para aquela árvore.


E lá está ele agora, o velho pedaço de papel reciclado foi "transformado" numa bela estrela de papel, e enfeita agora, o topo da árvore de Natal da família daquela criança.


Velho… reciclado?! Sim, mas orgulhosamente útil e feliz.