29/12/09

A Volta Ao Mundo Em 80 Passos


Era uma vez um rapaz.
Certo dia esse rapaz decidiu andar o mais que conseguisse de uma só vez, ele estava convencido de que se não parasse conseguiria dar a volta ao mundo.
Pelos cálculos do rapaz a viagem iria ser longa por isso meteu duas sandes na mochila.
O nome do rapaz era Volt, diminutivo para Virgílio Oliveira de Lima Teixeira.
Era Verão, a manhã estava linda, Volt achou que estava na hora de partir.
Depois de andar escassos metros, Volt encontrou o seu amigo Gurb (também é um diminutivo).

Volt explicou ao amigo a razão pela qual não queria parar de andar, Gurb achou tão interessante a ideia que resolveu acompanhar Volt.
Após andarem milhares de milímetros, algumas dúvidas começaram a aparecer na cabeça de Volt.
VOLT: Gurb, achas mesmo que vamos conseguir dar a volta ao mundo?
GURB: Sei lá, nunca fui até ao fim do mundo.
VOLT: Fim do mundo?!
GURB: Claro, se queremos dar a volta ao mundo primeiro temos de ir até ao fim dele... depois voltámos.
VOLT: Acho que tens razão, nunca tinha pensado nisso assim. Como será que é o fim do mundo?
GURB: Deve ser um sítio sem nada, assim como o deserto mas sem a areia.
VOLT: Olha que não sei, uma vez o meu pai disse-me pra eu nunca me casar porque isso iria ser o fim do mundo pra mim.
GURB: Então se for assim, toda a gente que casou já conhece o fim do mundo.
VOLT: Acho que sim... olha, vai ali a D.Vasm, ela é casada com o homem do talho prai há uns 100 anos, se alguém conhece o fim do mundo tem de ser ela, vamos lá.

Volt e Gurb aproximaram-se da D.Vasm, uma linda mulher de 45 anos de idade, porém essa exacta mulher vista através dos olhos das duas crianças transformava-se numa velha e cansada mulher.
GURB: Olá D.Vasm, a senhora quer que nós a ajudemos a levar essas sacas?
D.VASM: Não é preciso rapazes, a minha casa é já ali, mas obrigado.
VOLT: D.Vasm...
D.VASM: Sim?
VOLT: Como é o fim do mundo?
D.VASM: O fim do mundo?!
VOLT: Sim, a senhora não é casada?
D.VASM: Sou, mas o que é que isso tem a ver com o fim do mundo?
GURB: É que o pai do Volt disse-lhe que as pessoas que estão casadas sabem como é o fim do mundo... e nós os dois queríamos ir até lá...
D.VASM: Querem ir até ao fim do mundo?!
GURB: Sim, mas depois voltámos.
D.VASM: Que grande confusão que por aí vai... casar não é o fim do mundo.
VOLT: Não?!
D.VASM: Claro que não, quando casamos apenas temos de fazer alguns sacrifícios, como não fazer aquilo que realmente gostamos... e temos mais... muitas mais responsabilidades e obrigações...
VOLT: Bolas, isso a mim parece-me mesmo o fim do mundo.
D.Vasm despediu-se dos rapazes e entrou em casa.
GURB: Támos tramados! Como é que vamos dar a volta ao mundo se não sabemos onde é o fim dele?

VOLT: Tenho uma ideia, já sei quem é que nos pode ajudar.
GURB: Quem?
VOLT: O Padre Zorb. Vamos ter com ele à igreja.
Os dois companheiros de viagem partiram na direcção da igreja na esperança de encontrarem uma resposta.
Gurb começava a demonstrar algum cansaço, tanto físico como psicológico, o miúdo não estava habituado a fazer tanto esforço de uma só vez.
As duas sandes que Volt trazia na mochila foram ferozmente devoradas pelos miúdos, afinal eles mereciam, já tinham conseguido andar uns 60 passos.
Volt e Gurb entraram na igreja, o Padre Zorb estava lá dentro ajoelhado a rezar.
VOLT: Olá, Padre Zorb.
P.ZORB: Olá meninos… porque é que vocês não param de andar à minha volta… é algum jogo?
GURB: Padre Zorb, precisamos da sua ajuda.
P.ZORB: Em que é que vos posso ajudar… querem confessar os vossos pecaditos, é?
VOLT: Não, é coisa séria. Precisamos que o Padre Zorb nos diga onde é que fica o fim do mundo.
P.ZORB: Louvado seja o Senhor!
GURB: É muito longe daqui?
VOLT: O Padre Zorb deve saber onde é que ele fica, nos seus sermões está sempre a falar nele… diga, é perto da escola?
GURB: É ao lado da casa do chato do Marlk?
VOLT: Já lá esteve?
O pobre do Padre Zorb ficou tão atordoado, quer pelas perguntas quer por os dois rapazes andarem sempre à sua volta, que acabou por desmaiar.

Assustados, Volt e Gurb saíram rapidamente da igreja e foram procurar alguém que pudesse ajudar o inconsciente Padre Zorb.
A primeira pessoa que os miúdos viram foi uma prostituta que andava a passear na rua, consta que na altura os rapazes ainda não sabiam exactamente o que uma prostituta tem de fazer para ganhar dinheiro.
GURB: Senhora… senhora…
PROSTITUTA: O que foi pequeno?
GURB: Precisamos da sua ajuda…
PROSTITUTA: Vocês não acham que são novos demais para terem ajudas minhas?
VOLT: A ajuda não é pra nós, é pró Padre Zorb.
PROSTITUTA: Um padre precisa dos meus serviços? Não era a primeira vez mas é sempre de uma pessoa ficar admira…
VOLT: É urgente senhora, ele está estendido no meio da igreja.
PROSTITUTA: Na igreja?! Isso é novo para mim, mas um cliente é um cliente… obrigado rapazes, eu vou dar uma ajudinha ao vosso amigo… xau.
GURB: Porque é que ela disse que o Padre Zorb era um cliente?!
VOLT: Sei lá, coisas de adultos… olha pr’ali, tas a ver o mesmo que eu?

GURB: Acho que sim.
Os dois rapazes nem queriam acreditar naquilo que estavam a ver.
Diante deles, a olhar perdidamente de um lado para o outro enquanto caminhava apressadamente, estava nem mais nem menos que o Presidente do Clube de Futebol do Porto, o mítico Costa e Pinto.
Volt e Gurb já tinham ouvido histórias fantásticas sobre ele por isso aproximaram-se cheios de emoção.
VOLT: Olá… o senhor não é o Presidente Costa e Pinto?
PRESIDENTE: É berdade, sou eu.
GURB: Uau! Podia-nos dar o seu autógrafo?
PRESIDENTE: Poder, podia mas não o bou fazer, tou muito ocupado… ando à procura do fim do mundo.
GURB: Que grande coincidência Presidente, nós também… mas pra que é que o senhor anda à procura dele?
PRESIDENTE: Bocês prometem que não dizem nada a ninguém?
VOLT: Claro que não, somos crianças, a nossa especialidade é guardar segredos.
PRESIDENTE: Bou confiar em bocês… bom, prestem atenção, eu ando à procura do fim do mundo porque…

Por motivos que se prendem com questões legais, nunca se soube ao certo porque é que o Presidente Costa e Pinto andava à procura do fim do mundo, isso é ainda hoje um mistério.
Volt e Gurb começavam a ficar realmente cansados e acima de tudo com fome… muita fome.
Desgraçadamente os cálculos que Volt tinha feito saíram furados, afinal as duas sandes que ele tinha previsto serem suficientes para dar a volta ao mundo, tinham-se revelado escassas.
Felizmente naquele tempo a comida macrobiótica ainda não tinha sido inventada e na rua, à frente dos miúdos, caminhava um alegre vendedor de cachorros quentes.

À medida que os dois infantes se aproximavam do vendedor de cachorros quentes, um enorme sorriso de satisfação começou a surgir no rosto de cada um deles, o sorriso não era porque os miúdos iriam comer qualquer coisa, mas porque finalmente e após terem percorrido uma boa dezena de metros sem parar, eles tinham encontrado o tão ambicionado fim do mundo.

Perante aquilo que estava escrito no carrinho (“CACHORROS-QUENTES DO FIM DO MUNDO”), eles não tiveram dúvidas que o objectivo daquela expedição tinha sido alcançado.
Quem diria que o fim do mundo poderia estar dentro de um carrinho de cachorros quentes?
Volt e Gurb cheios de um orgulho plenamente justificado deram triunfalmente uma volta ao carrinho e foram felizes para casa.

O mais difícil para os dois amigos, até mais que encontrar o próprio fim do mundo, foi convencer as famílias e amigos de que eles tinham realmente conseguido dar a volta ao mundo em 80 passos (os 80 passos foram calculados pelo Volt, logo, grande probabilidade de erro).

16/12/09

A Pior História de Natal do Mundo


Há muito, muito tempo… mas mesmo muito tempo atrás… tipo, a semana passada, aconteceu-me uma coisa que para sempre modificou o rumo da minha vida.
Na verdade, não aconteceu nada a semana passada, pelo menos nada que “para sempre modificasse o rumo da minha vida”, mas achei que era uma boa maneira de começar esta história de Natal… sim, isto é uma história de Natal.

Era Dezembro, aproximava-se a altura das compras, eu, corajosamente, decidi pedir uns dias de férias lá do trabalho.
Após algum tempo de negociações, este foi o acordo a que eu cheguei: do dia 17 ao dia 22 de Dezembro, eu não iria trabalhar… na realidade, esse período de tempo foi alargado para “tempo indefinido”, ou seja, fui despedido.

AVISO: Cuidado com a forma como pedem férias. Não o façam se nesse dia estiverem embriagados.

Sem trabalho, tive muito tempo para planear a ida às compras, só me faltava arranjar o dinheiro.
Saí à rua, olhei para cima, e pedi um sinal ao senhor… um sinal de “STOP” caiu-me na cabeça. Eu, educadamente, agradeci ao tipo que estava em cima de um camião, a descarregar sinais de trânsito.
Com uma valente enxaqueca, fui até à farmácia mais próxima, que por acaso ficava a 12 Km de distância.
Cheguei lá e já não me doía a cabeça, agora doía-me o corpo todo, andar a pé é uma merda.
A farmacêutica receitou-me uns maravilhosos comprimidos, que tomei imediatamente. Foi então que vi um elefante azul a levitar em cima de um tapete indiano… juro.
Fosse o que fosse, eu estava curado, ou pelo menos assim o pensava.
Mal saí da farmácia notei algo diferente em mim, eu… eu tinha uma enorme barba, estava velho, gordo… e que raio de fato vermelho era aquele?!

Sim, eu sou o Pai Natal e esta é, provavelmente, a pior história de Natal do Mundo.

15/12/09

Feliz Natal!

(Esta apresentação foi inspirada por uma história que escrevi, chamada "A Mais Pequena História de Natal do Mundo")

14/12/09

O Presente


“Ouve…
Tu és a minha melhor lembrança, o meu presente mais desejado… o único presente que realmente desejei.
És a minha esperança, a razão deste meu sorriso… tu és a minha luz, a minha estrela pessoal.
Se eu não te tivesse… olha, se eu não te tivesse, seria como o Mundo sem Natal… entendes, filho?”

(Texto elaborado como resposta ao desafio “E se não houvesse Natal?” – a @isv13 do Twitter também participa, http://oladocultodamarciana.blogspot.com/2009/12/o-livro-branco.html )

11/12/09

Era Uma Vez Uma Música


Era uma vez uma música... na verdade, ela ainda nem sequer era uma música propriamente dita, era mais uma melodia, uma pequena e simples melodia, que ansiava por crescer rapidamente, para ver, ou melhor, ouvir, naquilo em que se iria transformar quando crescesse.


Naquele tempo, só ainda existiam dois ou três tipos de música conhecidos; havia o Jazz, o Rock e a música Sacra.
A jovem melodia rezava todos os dias, para não se transformar em música Sacra (doce ironia).



Certo dia, quando a melodia ia a sair da escola de música, deu de caras com uma cena nova para ela; ela viu uma Clave de Sol, agarrada aos beijos, a um Dó Menor.
A pequena melodia, timidamente escondeu-se atrás de uma Pauta Musical, e ficou a ouvir, em silêncio, o que as Notas Musicais diziam.

Instintivamente, e sem se conseguir controlar, a pequena melodia começou a tocar uma espécie nova de música... o som era cada vez mais alto.
Pouco depois, centenas de Notas Musicais, começaram a surgir do nada, todas correram para ouvir aquele novo estilo de música.


E foi assim, sem tirar nem pôr, que nasceu a música Romântica.

09/12/09

Enfim...


O mais normal, típico, clássico, usado e pouco original era começar esta história com um: "Era uma vez, há muito, muito tempo...", porém, esta história não vai, nem pode começar dessa forma pela simples e lógica razão que ela se passa numa altura em que as palavras ainda não tinham sido inventadas.
Quem reinava nesse tempo eram os sinais gramaticais, ou melhor, alguns sinais gramaticais, nomeadamente aqueles que no futuro iriam ser independentes das palavras, por isso e para facilitar (ou não) o enredo os próximos sinais gramaticais "independentes" que surgirem na narrativa não devem ser entendidos como sinais mas como "coisas" que outrora dominaram o Mundo.

Tudo começou quando o ! e a , um jovem casal de pontos tiveram 3 lindos filhos os ...
Apesar de à primeira vista os 3 irmãos parecerem iguais eles tinham uma particularidade que os distinguia o . era azul o . era verde e o . era vermelho
O . azul talvez por ter sido o primeiro a nascer era visto como uma espécie de líder pelos irmãos para onde quer que ele fosse os .. seguiam-no fielmente
Por ainda não existirem palavras escritas os ... viviam felizes e descontraidamente eles gostavam particularmente de ficar a ouvir durante horas a fio as aventuras contadas pelo avô ? normalmente ele contava episódios da vida de quando era ainda um jovem e possante ! os ... deliravam com as façanhas do avô ?
Durante a fase sempre difícil e problemática da adolescência os ... tiveram como amigos um engraçado : e uma jovem e cada vez mais sensual ;
Apesar de não querer admitir o . vermelho sempre teve uma paixão secreta pela ; ele corava imenso sempre que estava ao pé dela no entanto ; simpatizava mais com o . verde

O tempo foi passando e quem acabou por casar com a ; foi o : o resultado dessa união foi o nascimento daquele que seguramente iria ser o mais arrogante de todos os pontos gramaticais o .
Tal como gigantesca nuvem provocada por um incêndio o reinado dos sinais gramaticais "independentes" estava a ficar muito negro a razão disso foi o aparecimento das primeiras palavras elas começaram a surgir do nada e ao principio andavam soltas parecendo inocentes mas depois descobriram que poderiam ter mais importância se elas se juntassem umas às outras e foi assim que nasceram as primeiras frases
As frases já não satisfeitas por serem apenas uma junção de palavras começaram a ficar gananciosas

Elas começaram a caçar literalmente todos os sinais gramaticais e depois domesticavam-nos
Os ... assustados com a fúria das frases fugiram para o mais longe que conseguiram
As frases tornaram-se cada vez mais fortes e acabaram por dominar o Mundo
Não houve resistência possível os ? passaram a ser usados em frases quando se queria perguntar alguma coisa e os ! foram usados para dar ênfase a determinadas frases
Muito pior sorte tiveram as , elas foram as que mais sofreram nas mãos das frases as pobres , foram abusadas e eram obrigadas a ficar no meio de palavras sem sentido
O destino dos : e ; também não foi fácil no entanto muito anos mais tarde eles viriam a servir para uma coisa bem agradável a possibilidade de se fazerem bonecos nas redes sociais da Internet.

O . tal como esperado tornou-se autoritário e snob tanto que não permitia que mais nada fosse escrito a seguir a ele

Passaram-se muitos anos até que finalmente os ... resolveram sair do esconderijo o tempo tinha tornado os outrora ... coloridos em ... monocromáticos
O Mundo estava tão diferente desde a última vez que os ... o tinham visto que eles sentiram-se deslocados e excluídos parecia que eles não faziam falta a ninguém nenhuma frase ou palavra queria ter os ... por perto
Eles foram até gozados pelos antigos amigos de infância o : e a ;
Os ... pareciam condenados ao esquecimento até que um dia uma palavra os decidiu ajudar essa palavra era o "enfim" ela achou que "enfim..." soava melhor e usou os ... pela primeira vez
Não tardou a que muitas outras palavras e frases começassem a usar os ... ainda não se sabe ao certo o porquê do uso dos ... porque no fundo eles não servem para nada mas isso não é importante o que é importante é que os ... ficam bem em qualquer lugar ...

07/12/09

Era Uma Vez Um Poema


Era uma vez um poema,
Daqueles que rimam no fim,
E isto sem qualquer esquema,
Pois um poema é mesmo assim.

Nasceu em Março,
Era um poema muito dado,
Gostava de um bom abraço,
E de ouvir Fado.

Porém,
Um quadro negro o amor lhe pintou,
E nunca conheceu nenhuma fadista,
Em vez disso uma rapariga ele namorou,
Que em Boxe era especialista.

Coitado,
Apanhou tamanha pancadaria,
Que certa noite deixou até de rimar,
“Que se lixe” – disse ele já na escadaria,
“Vou-me pirar!”.

A história desta Poema foi assim,
De bonito nada tem,
E agora que chegou ao fim,
Resta-me escrever “adeus, passem bem.”