Era uma vez um rapaz.
Certo dia esse rapaz decidiu andar o mais que conseguisse de uma só vez, ele estava convencido de que se não parasse conseguiria dar a volta ao mundo.
Pelos cálculos do rapaz a viagem iria ser longa por isso meteu duas sandes na mochila.
O nome do rapaz era Volt, diminutivo para Virgílio Oliveira de Lima Teixeira.
Era Verão, a manhã estava linda, Volt achou que estava na hora de partir.
Depois de andar escassos metros, Volt encontrou o seu amigo Gurb (também é um diminutivo).
Volt explicou ao amigo a razão pela qual não queria parar de andar, Gurb achou tão interessante a ideia que resolveu acompanhar Volt.
Após andarem milhares de milímetros, algumas dúvidas começaram a aparecer na cabeça de Volt.
VOLT: Gurb, achas mesmo que vamos conseguir dar a volta ao mundo?
GURB: Sei lá, nunca fui até ao fim do mundo.
VOLT: Fim do mundo?!
GURB: Claro, se queremos dar a volta ao mundo primeiro temos de ir até ao fim dele... depois voltámos.
VOLT: Acho que tens razão, nunca tinha pensado nisso assim. Como será que é o fim do mundo?
GURB: Deve ser um sítio sem nada, assim como o deserto mas sem a areia.
VOLT: Olha que não sei, uma vez o meu pai disse-me pra eu nunca me casar porque isso iria ser o fim do mundo pra mim.
GURB: Então se for assim, toda a gente que casou já conhece o fim do mundo.
VOLT: Acho que sim... olha, vai ali a D.Vasm, ela é casada com o homem do talho prai há uns 100 anos, se alguém conhece o fim do mundo tem de ser ela, vamos lá.
Volt e Gurb aproximaram-se da D.Vasm, uma linda mulher de 45 anos de idade, porém essa exacta mulher vista através dos olhos das duas crianças transformava-se numa velha e cansada mulher.
GURB: Olá D.Vasm, a senhora quer que nós a ajudemos a levar essas sacas?
D.VASM: Não é preciso rapazes, a minha casa é já ali, mas obrigado.
VOLT: D.Vasm...
D.VASM: Sim?
VOLT: Como é o fim do mundo?
D.VASM: O fim do mundo?!
VOLT: Sim, a senhora não é casada?
D.VASM: Sou, mas o que é que isso tem a ver com o fim do mundo?
GURB: É que o pai do Volt disse-lhe que as pessoas que estão casadas sabem como é o fim do mundo... e nós os dois queríamos ir até lá...
D.VASM: Querem ir até ao fim do mundo?!
GURB: Sim, mas depois voltámos.
D.VASM: Que grande confusão que por aí vai... casar não é o fim do mundo.
VOLT: Não?!
D.VASM: Claro que não, quando casamos apenas temos de fazer alguns sacrifícios, como não fazer aquilo que realmente gostamos... e temos mais... muitas mais responsabilidades e obrigações...
VOLT: Bolas, isso a mim parece-me mesmo o fim do mundo.
D.Vasm despediu-se dos rapazes e entrou em casa.
GURB: Támos tramados! Como é que vamos dar a volta ao mundo se não sabemos onde é o fim dele?
VOLT: Tenho uma ideia, já sei quem é que nos pode ajudar.
GURB: Quem?
VOLT: O Padre Zorb. Vamos ter com ele à igreja.
Os dois companheiros de viagem partiram na direcção da igreja na esperança de encontrarem uma resposta.
Gurb começava a demonstrar algum cansaço, tanto físico como psicológico, o miúdo não estava habituado a fazer tanto esforço de uma só vez.
As duas sandes que Volt trazia na mochila foram ferozmente devoradas pelos miúdos, afinal eles mereciam, já tinham conseguido andar uns 60 passos.
Volt e Gurb entraram na igreja, o Padre Zorb estava lá dentro ajoelhado a rezar.
VOLT: Olá, Padre Zorb.
P.ZORB: Olá meninos… porque é que vocês não param de andar à minha volta… é algum jogo?
GURB: Padre Zorb, precisamos da sua ajuda.
P.ZORB: Em que é que vos posso ajudar… querem confessar os vossos pecaditos, é?
VOLT: Não, é coisa séria. Precisamos que o Padre Zorb nos diga onde é que fica o fim do mundo.
P.ZORB: Louvado seja o Senhor!
GURB: É muito longe daqui?
VOLT: O Padre Zorb deve saber onde é que ele fica, nos seus sermões está sempre a falar nele… diga, é perto da escola?
GURB: É ao lado da casa do chato do Marlk?
VOLT: Já lá esteve?
O pobre do Padre Zorb ficou tão atordoado, quer pelas perguntas quer por os dois rapazes andarem sempre à sua volta, que acabou por desmaiar.
Assustados, Volt e Gurb saíram rapidamente da igreja e foram procurar alguém que pudesse ajudar o inconsciente Padre Zorb.
A primeira pessoa que os miúdos viram foi uma prostituta que andava a passear na rua, consta que na altura os rapazes ainda não sabiam exactamente o que uma prostituta tem de fazer para ganhar dinheiro.
GURB: Senhora… senhora…
PROSTITUTA: O que foi pequeno?
GURB: Precisamos da sua ajuda…
PROSTITUTA: Vocês não acham que são novos demais para terem ajudas minhas?
VOLT: A ajuda não é pra nós, é pró Padre Zorb.
PROSTITUTA: Um padre precisa dos meus serviços? Não era a primeira vez mas é sempre de uma pessoa ficar admira…
VOLT: É urgente senhora, ele está estendido no meio da igreja.
PROSTITUTA: Na igreja?! Isso é novo para mim, mas um cliente é um cliente… obrigado rapazes, eu vou dar uma ajudinha ao vosso amigo… xau.
GURB: Porque é que ela disse que o Padre Zorb era um cliente?!
VOLT: Sei lá, coisas de adultos… olha pr’ali, tas a ver o mesmo que eu?
GURB: Acho que sim.
Os dois rapazes nem queriam acreditar naquilo que estavam a ver.
Diante deles, a olhar perdidamente de um lado para o outro enquanto caminhava apressadamente, estava nem mais nem menos que o Presidente do Clube de Futebol do Porto, o mítico Costa e Pinto.
Volt e Gurb já tinham ouvido histórias fantásticas sobre ele por isso aproximaram-se cheios de emoção.
VOLT: Olá… o senhor não é o Presidente Costa e Pinto?
PRESIDENTE: É berdade, sou eu.
GURB: Uau! Podia-nos dar o seu autógrafo?
PRESIDENTE: Poder, podia mas não o bou fazer, tou muito ocupado… ando à procura do fim do mundo.
GURB: Que grande coincidência Presidente, nós também… mas pra que é que o senhor anda à procura dele?
PRESIDENTE: Bocês prometem que não dizem nada a ninguém?
VOLT: Claro que não, somos crianças, a nossa especialidade é guardar segredos.
PRESIDENTE: Bou confiar em bocês… bom, prestem atenção, eu ando à procura do fim do mundo porque…
Por motivos que se prendem com questões legais, nunca se soube ao certo porque é que o Presidente Costa e Pinto andava à procura do fim do mundo, isso é ainda hoje um mistério.
Volt e Gurb começavam a ficar realmente cansados e acima de tudo com fome… muita fome.
Desgraçadamente os cálculos que Volt tinha feito saíram furados, afinal as duas sandes que ele tinha previsto serem suficientes para dar a volta ao mundo, tinham-se revelado escassas.
Felizmente naquele tempo a comida macrobiótica ainda não tinha sido inventada e na rua, à frente dos miúdos, caminhava um alegre vendedor de cachorros quentes.
À medida que os dois infantes se aproximavam do vendedor de cachorros quentes, um enorme sorriso de satisfação começou a surgir no rosto de cada um deles, o sorriso não era porque os miúdos iriam comer qualquer coisa, mas porque finalmente e após terem percorrido uma boa dezena de metros sem parar, eles tinham encontrado o tão ambicionado fim do mundo.
Perante aquilo que estava escrito no carrinho (“CACHORROS-QUENTES DO FIM DO MUNDO”), eles não tiveram dúvidas que o objectivo daquela expedição tinha sido alcançado.
Quem diria que o fim do mundo poderia estar dentro de um carrinho de cachorros quentes?
Volt e Gurb cheios de um orgulho plenamente justificado deram triunfalmente uma volta ao carrinho e foram felizes para casa.
O mais difícil para os dois amigos, até mais que encontrar o próprio fim do mundo, foi convencer as famílias e amigos de que eles tinham realmente conseguido dar a volta ao mundo em 80 passos (os 80 passos foram calculados pelo Volt, logo, grande probabilidade de erro).
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