05/12/07

A pior história de Natal do Mundo

Há muito, muito tempo… mas mesmo muito tempo atrás… tipo, a semana passada, aconteceu-me uma coisa que para sempre modificou o rumo da minha vida.
Na verdade, não aconteceu nada a semana passada, pelo menos algo que “para sempre modificasse o rumo da minha vida”, mas achei que era uma boa maneira de começar esta história de Natal… sim, isto é uma história de Natal.
Era Dezembro, aproximava-se a altura das compras, eu, corajosamente, decidi pedir uns dias de férias lá do trabalho.
Após algum tempo de negociações, este foi o acordo a que eu cheguei: do dia 17 ao dia 22 de Dezembro eu não iria trabalhar… na realidade esse período de tempo foi alargado para “tempo indefinido”, ou seja, fui despedido.
AVISO: Cuidado com a forma como pedem férias, não o façam se estiverem embriagados nesse dia.
Sem trabalho, tive muito tempo para planear a ida às compras, só me faltava arranjar o dinheiro.
Saí à rua, olhei para cima e pedi um sinal ao senhor… um sinal de “stop” caiu-me na cabeça. Eu, educadamente, agradeci ao tipo que estava em cima de um camião a descarregar sinais de trânsito.
Com uma valente enxaqueca, fui até à farmácia mais próxima, que ficava a 12 Km de distância.
Cheguei lá e já não me doía a cabeça, agora doía-me o corpo todo, andar a pé é uma merda.
A farmacêutica receitou-me uns maravilhosos comprimidos, que tomei imediatamente, foi então que vi um elefante azul a levitar em cima de um tapete indiano… juro.
Seja como for eu estava curado, ou pelo menos assim o pensava.
Mal saí da farmácia notei algo diferente em mim, eu… eu tinha uma enorme barba, estava velho e gordo… e que raio de fato vermelho era aquele?!
Sim, eu sou o Pai Natal e esta é, provavelmente, a pior história de Natal do Mundo.

FIM

09/10/07

Cafézada 2

Entro num café, vou até ao balcão, peço um café e ouço, sem querer (claro) este diálogo entre a EMPREGADA e um TIPO BAIXINHO que já estava no balcão:


(EMPREGADA) - Ainda esta semana demos 35.000.
(TIPO BAIXINHO) - Ai sim, é alguém conhecido?
- Não podemos dizer.
- Ah.
- Estamos proibidos.
- Mas é alguém que… como se diz… merece?
- Não conheço bem a pessoa. Ela só vem cá duas vezes por semana… à sexta, para registar o Euromilhões, e à terça, como hoje. Entra aqui, cumprimenta toda a gente, e pede sempre a mesma coisa: um galão, dois pacotes de açúcar, uma torrada e um copo de água.
- Não conheço.
- Pois… mas nós não podemos dizer quem é. Estamos proibidos.

A EMPREGADA vai atender os clientes que estão nas mesas.
Entra um tipo (TIPO ALTO) no café e diz:

- Bons dias a todos!

O TIPO ALTO caminha até ao balcão e diz:

- Queria um galão, dois pacotes de açúcar e uma torrada, se faz favor.

O TIPO BAIXINHO que está no balcão aproxima-se e põe a mão no ombro do TIPO ALTO que acabou de entrar e diz-lhe:

- Fique tranquilo… eu sei do seu segredo. Você bem que disfarçou, não pedindo o copo de água, mas eu já o topei… não se aflija que eu não conto o seu segredo a ninguém.
- Você também sabe, quem lhe contou?
- Ninguém, eu é que topo estas coisas ao longe.
- Bem, não sei o que lhe diga. Mas ouça, se você sabe do meu segredo então não se importa que eu o convide para aparecer lá em casa.
- Como?!
- Então… não vai ficar tímido agora, pois não? Só lhe peço uma coisa: não conte o meu… o nosso segredo a mais ninguém, está bem?
- Acho que eu não estou a perce…
- Às dez eu já estou despachado e…

Entra um outro tipo (TIPO MAGRO) no café, ele aproxima-se do balcão e diz:

- Bom dia… queria um galão, dois pacotes de açúcar, uma torrada e um copo de água, por favor.

Nessa altura eu saí do café, curiosamente nunca mais vi o TIPO BAIXINHO.

FIM

03/10/07

Cafézada

Entro num café e vou para o balcão. Peço um café e começo a ouvir a conversa entre o empregado no balcão e um cliente sentado numa mesa, não dá para ver o cliente, apenas ouço a sua voz.

(EMPREGADO) - O teu dá os 220?
(CLIENTE) - …
- É pra veres, o meu dá. Eu nunca andei a essa velocidade mas tá lá marcado… 220!
- Eu já andei a 160, no meu.
- Naquela caixinha de fósforos?!
- Deu os 160, mas depois bloqueou…
- O teu carro a 160 deve ser como um barco. Em vez de volante precisas é de um leme pra controlar aquilo.
- Quer dizer, não bloqueou mesmo, só não deu foi mais de 160.
- O meu é uma coisa a sério, aquilo até parece que cola à estrada.
- Aposto que os gajos meteram qualquer coisa no motor… uma coisa de segurança, chegando aos 160 não dá mais…
- Eu a 180 curvo na boa… mesmo nos 200 não há problema.
- E não adianta eu acelerar mais, o Sistema Anti-160 entra logo em acção, é automático…
- E pra travar no meu?! Que maravilha, basta encostar, só encostar, um dedo do pé no pedal é pimba… fica logo estacionado e tudo.
- Ainda a semana passada levei o meu pra uma rua a descer, pra ver se aquilo dava mais de 160 e népia… nem a descer… aquilo tá bem feito, sim senhor.
- O meu a descer parece que desliza…
(EU) – Afinal qual é seu carro?
(EMPREGADO) - Ó amigo, eu não tenho carro, estou só a conversar, percebe?
- Ah… queria pagar se faz favor.

FIM

21/08/07

Era uma vez um Presidente de um clube de futebol

Era uma vez um Presidente de um clube de futebol, o nome do clube é irrelevante, mas a primeira letra do nome é um S, tem um B no fim, e um L no meio.
A fisionomia do tal Presidente também é irrelevante, mas as suas duas orelhas, visíveis a longa distancia, são o que mais se destaca.
Durante o “reinado” desse Presidente, a competência técnica dos diversos treinadores que por lá passaram revelou-se sempre irrelevante.
A equipa, em si, era do mais irrelevante possível, contudo havia lá de tudo um pouco, infelizmente para o Presidente tudo que lá havia era mau.
No meio de toda esta irrelevância, o Presidente insistia que aquele era o maior e melhor clube do Mundo, e na verdade ele estava certo, o problema era que o Presidente vivia num Mundo só dele.
Ocasionalmente a equipa, desafiando a Lei das Probabilidades, vencia um jogo.
O Presidente ficava eufórico, normalmente isso durava até ao jogo seguinte, onde a Lei das Probabilidades impunha novamente as suas leis e a equipa perdia.
Os anos foram passando, as vitórias também foram passando ao lado.
Que fim poderia ter tal clube, liderado por tal Presidente? O pior de todos: ser protagonista de historias idiotas como esta.
“Antes de ser o melhor do Mundo, convém, em primeiro lugar, ser o melhor da cidade.” – Jin Tó Nikko (filósofo luso/nipónico/escandinavo)

FIM

11/07/07

Era uma vez um mágico

Era uma vez um mágico capaz de hipnotizar quem, e o que ele quisesse.
Certa noite, durante mais um dos seus espectáculos (ler o que se segue de um só fôlego, a coisa não tem virgulas!), ele chamou uma jovem mulher ao palco convidando-a depois a sentar-se numa cadeira previamente colocada no palco por uma assistente dele com o intuito de ali ser realizada a magia (inspirar neste ponto).
O Mágico pediu silêncio à plateia, as 4 pessoas que lá estavam obedeceram.
Foi então que o Mágico pediu à jovem para cerrar os olhos e disse-lhe:”Eu sou Zorb (nome ridículo, eu sei), o Rei do Hipnotismo.” - ele repetiu esta fala três vezes.
De seguida, e num gesto só possível de ser realizado por alguém com muitos anos de prática, e uma deficiência nos braços causada por acidente de mota, Zorb estalou os dedos (dos pés) e mandou a jovem abrir os olhos.
“Olhe para mim, minha jovem, olhe profundamente para mim… isso… não resista ao meu poder… agora diga, quem sou eu?” - perguntou Zorb.
“Zorb?” - respondeu a mulher.
“Sim, mas… Zorb o…” - o Mágico fez novamente uns gestos profundamente complexos sobre a cabeça da rapariga.
“Zorb… o Rei do Hipnotismo?”

O Mágico virou-se imediatamente para a 3 pessoas (uma já tinha abandonado a sala) da plateia e agradeceu os aplausos, isto é, aplausos não houveram mas ele agradeceu na mesma.

O mais incrível desta história vem agora, quem leu isto até aqui também foi hipnotizado (!), e sempre que se ouvir a palavra “Euribor” todos irão sentir uma enorme dor de cabeça.

FIM

03/07/07

Era uma vez um pedaço de tempo

Era uma vez um pedaço de tempo, o seu nome, pelo menos aquele que ele me garantiu ser o seu nome era " ".
Com efeito, " " revelou-se um nome difícil, para não dizer impossível, de eu pronunciar, por isso eu próprio o baptizei com o nome de " ".
" ", ou melhor " ", achou o seu novo nome maravilhoso, embora me tenha dito em voz baixa que " " soava melhor.
O que é certo é que aquele pedaço de tempo me fez companhia durante... bem, durante um pedaço de tempo.
Eu nunca pensei, ou sequer imaginei, que um pedaço de tempo pudesse ser assim como o " ", para ser sincero eu nunca dei muita importância aos pedaços de tempo.
" " avisou-me então para eu me preparar para o pior.
O pior? Que quereria o pedaço de tempo dizer?
Eu ainda não tinha sequer acabado de esboçar um pensamento quando vi o que ele queria dizer; " " tinha chegado ao fim.
Adeus " ", talvez um dia ainda nos vejamos novamente.

FIM

27/06/07

Era uma vez um poema

Era uma vez um poema,
Daqueles que rimam no fim,
E isto sem qualquer esquema,
Pois um poema é mesmo assim.

Ele nasceu em Março,
Era um poema muito dado,
Gostava de um bom abraço,
E de ouvir um bom Fado.

Porém,
Um quadro negro o amor lhe pintou,
E nunca conheceu nenhuma fadista,
Em vez disso uma rapariga ele namorou,
Que em Boxe era especialista.

Coitado,
Apanhou tamanha pancadaria,
Que certa noite deixou até de rimar,
“Que se lixe” – disse ele já na escadaria,
“Eu vou-me é pirar!”.

A história desta Poema foi assim,
De bonito nada tem,
E agora que chegou ao fim,
Resta-me escrever “adeus e passem bem.”

FIM

22/06/07

Era uma vez um estúpido

Era uma vez um estúpido, este, tal como todos os estúpidos do mundo, fazia aquilo que todos eles/elas adoram fazer: coisas estúpidas.
Certa tarde, o estúpido decidiu que já tinha feito todas as coisas estúpidas para aquele dia e decidiu regressar a casa.
Ia o estúpido a cantarolar uma estúpida musica quando, no meio do caminho, surgiu um enorme pedregulho.
Era um pedregulho verdadeiramente grande, deveria ter uns 3 metros de diâmetro e pesaria, talvez, umas 2 toneladas.
O estúpido parou diante daquele “monstro”, depois de olhar a gigantesca pedra, o estúpido tentou empurrá-la com toda a força.
Nada, o pedregulho nem se mexeu.
O estúpido estava com um problema, até ele conseguiu perceber isso.
Como é que ele podia ir para casa se no meio do caminho estava uma coisa a obstruir a passagem?
O estúpido sentou-se para pensar melhor.
Cinco minutos depois ele levantou-se e começou a dar murros na pedra, acho que a ideia dele era desintegrar o objecto.
A experiência para além de infrutífera, revelou-se demasiado dolorosa, por isso o estúpido deixou de usar as mãos e começou a dar pontapés.
O resultado foi mau.
O estúpido voltou a sentar-se para pensar.
Dez minutos depois ele levantou-se, ganhou lanço e tentou saltar por cima do pedregulho de 3 metros de altura… não conseguiu, mas para ter a certeza tentou ainda mais dez vezes.
Cansado, e com enormes dores espalhadas por todo o corpo, o estúpido desistiu, para ele era obvio que a única forma de voltar a casa era escolher outro caminho.
Ele deu apenas alguns passos no sentido contrário quando passou por ele um miúdo de 8 anos, o estúpido ainda avisou o miúdo que era impossível passar por ali, no entanto o miúdo já não o ouviu uma vez que ele tinha contornado a pedra e seguido em frente.

FIM

18/06/07

Era uma vez um sonho

Era uma vez um sonho, não era um sonho particularmente grandioso, nem sequer demasiado ambicioso, era apenas um sonho.
Com o passar do tempo, o sonho tornara-se cada vez mais difícil de concretizar.
Ele foi perdendo as cores, assemelhando-se cada vez mais a um sonho desfeito.
Por vezes, quando o sonho parecia que ia finalmente começar a concretizar-se acontecia sempre qualquer coisa… qualquer coisa era o suficiente para ele se desmoralizar.
O pálido sonho parecia condenado ao esquecimento, no entanto, também bastava qualquer coisa… qualquer coisa era suficiente para o sonho acreditar que ainda era possível, que ainda havia tempo e vontade para tudo acontecer como tinha sido sonhado.
Não era um sonho particularmente grandioso, nem sequer demasiado ambicioso, era apenas um sonho… o meu sonho.

FIM

21/05/07

Era uma vez um pássaro

Era uma vez um pássaro, o seu nome era Baltazar.
O dito animal vivia feliz, Baltazar era o orgulhoso proprietário de um excelente ninho de três assoalhadas, tinha também um emprego porreiro (das 2 às 3 da tarde), e ganhava muitíssimo bem para um pássaro com as suas limitadas habilitações académicas.
Porém, desgraçadamente, tudo mudou no dia em que Baltazar recebeu, via e-mail, uma ordem de despejo.
O malvado do senhorio não perdoou ao Baltazar os 14 anos de atraso no pagamento da renda.
Para piorar o cenário, o animal voador, foi despedido do emprego, isto porque ele nunca apareceu um só dia no local de trabalho.
“Como a vida é injusta.” – pensou o Baltazar.
Depois de vários… minutos a pensar numa forma de dar a volta por cima, Baltazar teve um ideia: fundar um Partido.
Segundo o bicho, a única forma de continuar a viver bem sem fazer nenhum era tornar-se num político.
Assim foi, Baltazar fundou o P.P.S.T. (Partido dos Pássaros Sem Trabalho).
É incrível o que um simples pássaro determinado consegue fazer, em pouco tempo o número de aliados do P.P.S.T. era já de largos milhares de pássaros, todos eles estavam dispostos a lutar, e até a dar a vida, pelos ideais defendidos pelo agora Doutor Baltazar.
E quem sabe… Baltazar poderia até conseguido dominar o Mundo, poderia… isto é, se não tivesse surgido à sua frente um outro ser, milhares de vezes mais inteligente do que ele.
É… o outrora Invencível Baltazar vive agora em minha casa, numa gaiola.

FIM

14/05/07

Era uma vez um pato

Era uma vez um pato, o seu nome era Simplesmente Pato.
Simplesmente, era um pato especial, ele era tão especial que todos os outros patos queriam ser como ele.
Simple – como ele era tratado para facilitar o contacto, era um pato alto, esbelto, quase um top-model, se houvesse um termo de comparação dir-se-ia que Simple era um Deus!
Certa tarde, Simplesmente Pato decidiu ir comer fora, ele saltou o baixo muro que rodeava a fazenda e caminhou pela estrada que o levaria ao povoado vizinho.
Ali chegado, Simple, foi ao galinheiro do Pestana, o Pestana era um galo.
Os dois animais eram velhos conhecidos, tinham feito amizade na tropa.
Simplesmente Pato comeu bastante naquela tarde, porém estava na hora de regressar.
Simple despediu-se de Pestana e pôs-se a caminho de casa.
O pato estava quase a chegar, só lhe faltava saltar o pequeno muro, assim que ele saltou, ouviu-se um disparo vindo de uma espingarda.
Simplesmente tinha sido atingido numa asa, o pobre animal começou a gritar (ou algo parecido com isso), os outros patos da fazenda correram em seu auxílio, quando lá chegaram viram Simple cheio de sangue e a tossir.
Os patos olharam para o local de onde o tiro tinha sido disparado e perceberam tudo.
Quem tinha disparado o tiro tinha sido o Pestana, o galo.
Simplesmente Pato tinha comido mais do que comida naquela tarde, e o corno do galo tinha feito justiça… simplesmente isso.

FIM

04/05/07

Era uma vez uma antena parabólica

Era uma vez uma antena parabólica, ela morava há já alguns anos em cima de um telhado com telhas pretas.
Certo dia, a antena viu chegar uma carrinha desconhecida à casa, automaticamente ela entrou em choque, pois já lhe tinham chegado aos ouvidos, ou melhor, aos cabos, que actualmente existia uma nova forma de ter muitos canais de televisão; TV por cabo era o nome dessa coisa.
Efectivamente, aquela carrinha pertencia à empresa de TV por cabo local, a antena parabólica começou então a tremer… devido a esses tremeliques a emissão de TV da casa começou a ficar desfocada e sem som nenhum, os donos da casa, que até então tinham grande orgulho na antena, começaram a questionarem-se: será que a antena parabólica já estaria demasiado velha e cansada?
Assim que a antena parabólica viu os donos a apontarem para ela, começou a tremer ainda mais, tremeu tanto que os donos não tiveram outra alternativa que não fosse desligá-la.
Durante dias, que pareceram anos à antena, ela ficou desligada, deixou de ser útil, e tudo porque teve medo daquilo que ela imaginava que iria acontecer.
Porém, num dia de sol e céu azul, a antena ouviu alguém a aproximar-se dela. “É o meu fim.”- pensou ela.
Só que… só que isso não aconteceu, o dono subiu ao telhado para prender melhor a antena, para que ela deixasse de tremer.
Momentos depois a antena parabólica foi novamente ligada e tudo voltou a ser como dantes.
Aquela antena parabólica aprendeu uma lição com este episódio: não adianta ter medo daquilo que pode vir a acontecer, afinal, o que tiver de acontecer, acontecerá.


FIM
PS: Semanas depois a antena parabólica foi efectivamente desligada, tendo sido substituída pela TV por cabo.

23/04/07

Era uma vez um soluço

Era uma vez um soluço, este, tal como todos os outros soluços no Mundo, vivia com medo.
Reparem bem, todos nós temos os nossos problemas, mas ser um soluço é mau de mais, imaginem como seriam as vossas vidas sabendo que toda a gente quer acabar com vocês, deve ser uma sensação no mínimo desagradável.
O soluço desta história, que a propósito se chamava Hic*, não fugia à regra e também ele tinha medo de tudo o que se mexia.
Hic*, apesar da tenra idade, já tinha visto muitos soluços seus amigos, serem pura e simplesmente aniquilados, uns padeceram vítimas de afogamento, outros de falta de oxigénio, e a maioria, a enorme maioria, morreram devido a terríveis sustos.
O relato que se segue é no mínimo controverso e oficialmente ele é negado pelas Autoridades, mas, entre os soluços conta-se, ainda hoje, como Hic* foi bravo e heróico na hora da sua morte.
A tragédia deu-se aquando da visita do Papa João Paulo II a este País.
Como sabem o Papa foi vitima de um atentado contra a sua vida, o que não sabem é que a bala não lhe acertou em cheio porque, na hora em que o terrorista disparou, Hic*, numa atitude de louvar, entrou no sistema do bandido, obrigando-o a soluçar na hora exacta do disparo… Hic* morreu instantes depois, mas o Papa sobreviveu, e tudo graças a um soluço, um corajoso soluço chamado Hic*.

FIM

12/04/07

Era uma vez uma música

Era uma vez uma música.
Ela era ainda muito pequena, na realidade, ela ainda nem sequer era uma música propriamente dita, ela era mais uma melodia, uma pequena e simples melodia que ansiava por crescer rapidamente para ver, ou melhor, ouvir, naquilo em que se iria transformar quando crescesse.
Naquele tempo, só ainda existiam dois ou três tipos de música conhecidos; havia o Jazz, o Rock e a música Sacra.
A jovem melodia rezava todos os dias para que ela não se transformasse em música Sacra (doce ironia).
Certo dia, quando a melodia ia a sair da escola de música, deu de caras com uma cena nova para ela, ela viu uma Clave de Sol agarrada, aos beijos, a um Dó Menor.
A pequena melodia escondeu-se atrás da Pauta Musical e ficou a ouvir o que eles diziam um ao outro.
Inesperadamente, e sem se conseguir controlar, a melodia começou a tocar uma espécie de música, o som era cada vez mais alto.
Pouco depois, centenas de Notas Musicais começaram a surgir do nada, todas foram ouvir aquele novo estilo de música.
E foi assim, sem tirar nem pôr, que nasceu a música Romântica.

(A Clave de Sol e o Dó Menor casaram mais tarde nesse mesmo ano).

FIM

07/04/07

Era uma vez uma Vez

Era uma vez uma Vez.
Certa vez, a Vez foi passear à beira-mar, era a primeira vez que a Vez ia ver o mar, por isso ela estava nervosa.
Assim que a Vez viu o imenso oceano, lembrou-se da vez em que ela viu uma bicicleta pela primeira vez.
Daquela vez, a Vez tentou logo andar de bicicleta mas caiu da primeira vez que tentou, por isso ela tentou mais vezes, acabando por conseguir à décima vez.
A Vez, desta vez, limitou-se a olhar para o mar, mas jurou que alguma vez ela iria andar em cima do mar, tal como da outra vez andou em cima da bicicleta.
Assim, mal o Sol apareceu de vez, a Vez começou a ter aulas de surf, aos poucos, vez após vez, ela lá conseguiu equilibra-se em cima da prancha de surf de vez.
Infelizmente, da vez, em que a Vez tentou andar sozinha pela primeira vez, desequilibrou-se da prancha e caiu ao mar…
Foi a última vez que a Vez foi vista, talvez a Vez ainda esteja viva, quem sabe… talvez ela até esteja agora mesmo a fazer aquilo que mais gostava: fazer alguma coisa pela primeira vez.

FIM

31/03/07

Era uma vez um tipo que queria comprar um frigorífico

Era uma vez um tipo que queria comprar um frigorífico.
Após alguma pesquisa na Internet, o tipo, finalmente, decidiu-se por um modelo específico.
Inocentemente ele deslocou-se, numa sexta-feira à noite, até a um desses centros comerciais, onde a maioria das pessoas gostam de passar o tempo a esbarrarem-se umas nas outras, mas este tipo não, ele sabia exactamente o que estava ali a fazer e foi, por isso, direito à secção de electrodomésticos, mais concretamente à zona onde estavam os frigoríficos.
A negociação foi fria e rápida, a “vendedora” ainda sabia menos sobre frigoríficos que o tal tipo, daí que ele pagou o electrodoméstico imediatamente, via Multibanco… dizem que assim, sem ver o dinheiro a sair da carteira, dói menos.
Um frigorifico é, normalmente, uma coisa grande, ou seja, é difícil de transportar num veículo utilitário, por isso o tipo pediu para que o frigorifico lhe fosse entregue em casa.
A “vendedora” garantiu, quase que sobre a vida dela, que na próxima segunda-feira, sem falta, o frigorifico lá iria estar, mais ou menos entre as 14 horas da tarde e as 20 horas da noite… o tipo sorriu, ele pensou que fosse uma brincadeira, mas a cara da “vendedora” dizia-lhe claramente que não, a coisa era a sério.
Resumindo: após múltiplos telefonemas, esquemas, incompetências, e, novamente, telefonemas, o tipo só teve o frigorifico em casa na quinta-feira… da semana seguinte.
Por tudo isto apetece dizer, ou melhor, gritar: “Não Worten, Nunca!”

PS: o tipo era eu.

FIM

23/03/07

Era uma vez um vidro riscado

Era uma vez um vidro riscado.
O vidro estava colocado numa enorme porta de uma enorme sala, que dava acesso a uma enorme varanda... o risco também era enorme.
No meio de toda aquela grandiosidade, o vidro riscado destoava, era impossível não reparar nele, toda a gente que ia aquela casa apontava-lhe o dedo, e diziam ser inestético, diziam ainda que aquele vidro riscado tinha de ser substituído.
O pobre vidro riscado não era capaz de esconder a tristeza que tinha dentro dele, que culpa tinha ele afinal de ser assim?
O dono da casa, farto de ouvir toda a gente a falar mal do vidro riscado, tomou uma atitude: ele chamou um vidraceiro para substituir o vidro riscado.
O vidro liso da mesma porta, bem que tentou animar o vizinho riscado mas foi inútil.
Numa tarde de sol, o dono da casa estava a olhar para a rua através do vidro riscado, quando uma coisa o obrigou a desviar o olhar.
O risco... o risco no vidro parecia-lhe claramente uma seta, uma seta a apontar para uma mulher que estava sentada no banco do jardim lá fora.
Instantes depois o vidraceiro tocou à campainha, ele trazia um vidro imaculado para substituir o outro.
O dono da casa olhou para o vidro riscado e, pedindo desculpa, mandou o vidraceiro ir embora (claro que pagou a deslocação do tipo).
Anos mais tarde o vidro riscado continua naquela enorme porta, daquela enorme sala, que dá acesso aquela enorme varanda.
Como poderia o dono da casa desfazer-se daquele maravilhoso motivo de conversa? Afinal foi aquele vidro riscado que o ajudou a tomar a decisão de casar com a mulher que estava sentada no banco do jardim.
FIM

16/03/07

Era uma vez um sapato

Era uma vez um sapato preto, o seu nome era 42, pelo menos era isso que ele pensava uma vez que esse algarismo estava inscrito na parte debaixo dele.
42, por motivos que eu próprio desconheço, separou-se do outro par.
Ele vivia dentro de uma velha caixa de cartão azul, azul-escuro.
Muitas vezes, 42 sentia-se triste, isto porque ele ficava a ver os outros pares de sapatos a passear e ele estava ali, sozinho.
Farto daquela situação, 42 decidiu tomar uma atitude, ele abandonou a velha caixa de cartão azul, azul-escuro, e caminhou pelo Mundo fora… ou melhor, saltitou pelo Mundo fora à procura do par.
A vida de um sapato não é fácil, especialmente se ele estiver sozinho, 42 teve de enfrentar muitos e grandes perigos, como fugir de cães estúpidos que adoram roer sapatos, saltar por cima de poças de água contaminada, atravessar passadeiras, e muitos, muitos outros perigos.
No decorrer da viagem, o sapato preto fez amizade com uma sapatilha rosa, ela também andava à procura do par.
Os dois, embora completamente diferentes, entenderam-se e ficaram amigos.
O 42 só não gostava quando a sapatilha decidia correr, é compreensível, os sapatos não foram feitos para correr… acho que a sapatilha sabia disso e apenas queria brincar com o amigo.
A amizade entre os dois cresceu e transformou-se em amor… quer dizer, o amor possível entre um sapato preto e uma sapatilha rosa.
Os dois deram o nó, literalmente, e caminham actualmente juntos por este Mundo fora, agora eles já não procuram par, querem é demonstrar, com o exemplo deles, que apesar das diferenças é possível as pessoas, ou sapatos, viverem juntos e serem felizes.
Por isso, se algum estranho dia virem um sapato preto, de nó dado, com uma sapatilha rosa, não estranhem, é o 42.

FIM

15/01/07

SIT.COM (stand-by)



SIDÓNIO PINTO (O FILHO - SID): Hummm… então tu é que és o namorado do meu pai.
FILIPE PINTO (O PAI - FIL): Sid…
JULIA QUADROS (O NAMORADO - JULY): Deixa, Fil. É natural que o Sid queira saber coisas a meu respeito.
SID: A minha mãe disse-me que tu és uma mulher.
FIL: Valha-me Deus.
JULY: A tua mãe não te mentiu, eu sou uma mulher… por enquanto, pelo menos.
SID: O meu pai gosta de homens.
FIL: Filho.
JULY: Deixa, Fil. Agora que vamos viver os três na mesma casa é bom esclarecer as coisas, afinal vamos ser…
SID: Uma família?!
JULY: Isso mesmo.
SID: Hummm...
FIL: Prepara-te, quando o Sid começa com os “hummm…”, é sinal que vai sair alguma coisa “genial” da boca dele. Nisso ele saiu à mãe, ela também tem essa mania. Alias, no dia em que eu lhe disse que era gay essa foi a única coisa que saiu da boca dela… no dia seguinte apanhei-a na cama com a amante. Essa foi a ultima vez que a vi, ela desapareceu e deixou o Sid na casa dos pais dela, mas agora que eles tiveram de mudar de cidade o Sid passou a ser minha responsabilidade…
JULY: Nossa querido, nossa responsabilidade, estamos juntos nisto. O Sid não tem contacto com a mãe?
FIL: Às vezes ela lembra-se e liga-lhe…
SID: Se tu és uma mulher, apesar de pareceres um homem…
JULY: Sim…?
SID: Se o meu pai é um homem, apesar de se portar como uma mulher…
FIL: Filho.
SID: Se vocês os dois fazem sexo…
FIL: Valha-me Deus…
SID: Isso significa que nós vamos ser… uma família normal... bolas, os putos lá da escola vão ficar decepcionados. Esta noite vocês vão fazer sexo?!
FIL: Olha, filho, chegámos… esta é a nossa casa.
SID: Hummm… espero que o prédio tenha elevador.

SID: Puff… puff… vocês querem dar cabo de mim, é?
FIL: Que exagero, Sid. Nós estamos no rês do chão.
SID: Pois… e as escadas da entrada, não contam?
FIL: Foram 6 degraus.
SID: E o peso da mala?
FIL: Fui eu que a carreguei. A sério filho, tens de fazer uma dieta.
JULY: Concordo, devias fazer mais exercício físico, Sid.
SID: Ai, sim? E como é que vocês os dois mantêm a elegância, é do sexo?
FIL: Han… July, que tal mostramos o resto da casa ao Sid?
JULY: Boa! Vamos, Sid, mexe esse traseiro.
SID: (Estes tipos só pensam em traseiros…) Já vou, calma.

SID: Hummm… então é aqui que vocês os dois fazem sexo…
FIL: Valha-me Deus.
JULY: Sid, repara, eu e o teu pai somos adultos, é natural que duas pessoas adultas, que gostam uma da outra façam amor, entendes?
SID: Hummm… acho que o sexo é como o dinheiro. As pessoas querem sempre mais e gostam de ter o dos outros.
JULY: Olha, acho que quando fores mais velho vais entender melhor… mas lembra-te que para haver sexo é preciso amar a outra pessoa.
SID: Pai, a mãe amava o Carlão, o massagista?
FIL: Quem?!
SID: E será que a mãe ama a Joana Espingarda? Acho que sim, para ter ido viver com ela…
JULY: E que tal nós…
SID: E o Jorge?! Será que a mãe também o amava, paizinho?
FIL: Mas quem é esse?
SID: O Jorge, padeiro… ele ia todos os dias levar pãezinhos fresquinhos à mãe, será que ela o amava?!
JULY: Pessoal, que tal irmos jantar fora? Aposto que o Sid está com fome, vamos?
FIL: O padeiro?!



(continua brevemente...)