23/03/07

Era uma vez um vidro riscado

Era uma vez um vidro riscado.
O vidro estava colocado numa enorme porta de uma enorme sala, que dava acesso a uma enorme varanda... o risco também era enorme.
No meio de toda aquela grandiosidade, o vidro riscado destoava, era impossível não reparar nele, toda a gente que ia aquela casa apontava-lhe o dedo, e diziam ser inestético, diziam ainda que aquele vidro riscado tinha de ser substituído.
O pobre vidro riscado não era capaz de esconder a tristeza que tinha dentro dele, que culpa tinha ele afinal de ser assim?
O dono da casa, farto de ouvir toda a gente a falar mal do vidro riscado, tomou uma atitude: ele chamou um vidraceiro para substituir o vidro riscado.
O vidro liso da mesma porta, bem que tentou animar o vizinho riscado mas foi inútil.
Numa tarde de sol, o dono da casa estava a olhar para a rua através do vidro riscado, quando uma coisa o obrigou a desviar o olhar.
O risco... o risco no vidro parecia-lhe claramente uma seta, uma seta a apontar para uma mulher que estava sentada no banco do jardim lá fora.
Instantes depois o vidraceiro tocou à campainha, ele trazia um vidro imaculado para substituir o outro.
O dono da casa olhou para o vidro riscado e, pedindo desculpa, mandou o vidraceiro ir embora (claro que pagou a deslocação do tipo).
Anos mais tarde o vidro riscado continua naquela enorme porta, daquela enorme sala, que dá acesso aquela enorme varanda.
Como poderia o dono da casa desfazer-se daquele maravilhoso motivo de conversa? Afinal foi aquele vidro riscado que o ajudou a tomar a decisão de casar com a mulher que estava sentada no banco do jardim.
FIM

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