20/05/05

Dinheiro e Bananas

Dinheiro... toda a gente o quer.
Há poucas pessoas com muito, algumas com algum e muitas com pouco ou nenhum, Sara e Jorge entram na terceira classe, literalmente.
Recém-casados e a viverem numa roulotte emprestada, eles nunca se deixaram afectar pelo facto de ambos estarem há dois anos desempregados, não senhor, algo muito mais importante que um simples emprego ocupava as suas mentes e preocupações: uma viagem de lua-de-mel.
Veneza, na Itália, pareceu-lhes um bom destino para passarem uns dias longe da azáfama e das responsabilidades que também não tinham em casa, ou melhor, na roulotte.
Cheios de entusiasmo mas com os bolsos vazios optaram pelo óbvio, assaltar um banco.
Após o visionamento de um DVD sobre o assunto, Sara e Jorge (que só viu metade do filme) sentiram-se capazes de assaltar um banco sem serem apanhados.
Jorge sugeriu usar a sobremesa como arma, na ideia dele uma banana camuflada iria muito bem passar por uma mortífera arma de fogo.
Quatro horas da tarde de um dia de sol, Jorge e Sara armados com uma letal banana e muita estupidez (acrescento eu) meteram-se dentro do velho Ford Escort azul-escuro e partiram rumo ao banco a toda a velocidade, o que naquele carro significa 50 km/hora.

Entretanto, no outro lado da cidade, Ivo e Pamela - marido e mulher, também saíram de casa num carro azul-escuro tendo como destino o mesmo banco.
As coincidências entre os dois casais terminam aí porque Ivo e Pamela estão casados há 25 anos, a casa deles é uma mansão, o carro um Jaguar e o banco... bem, o banco é deles.
Ivo e Pamela são aparentemente muito felizes, o permanente sorriso estampado no rosto de ambos é a marca registada do casal… e eles pagaram bem por ela, cinco operações para ele, oito para ela.
Apesar de todo o dinheiro, casas, carros, jóias, férias em locais exóticos sempre hospedados em hotéis de cinco estrelas, dos jactos-particulares, das piscinas cobertas, das operações e das lipoaspirações e uma vez mais do dinheiro, apesar de tudo isto eles não eram infelizes... quem diria?

Rua dos Miosótis, Sara e Jorge usando sabiamente os ensinamentos recolhidos no DVD pararam o Ford Escort à frente da porta principal do banco.
Jorge pegou na sua banana (a que vai ser usada como arma) e cobriu-a com um lenço depois virou-se para a Sara que estava ao volante do carro e deu-lhe um longo e húmido beijo na boca… “Amor da minha vida, se eu não voltar dentro de dez minutos arranca sem mim.” – disse ele de forma heróica enquanto saía do carro.
Sara ficou terrivelmente angustiada… ela não tinha relógio e do carro também não funcionava, para piorar a situação o segurança do banco aproximou-se dela.

Mesmo o mais elaborado, estudado e avançado plano pode falhar, aquele segurança não constava do DVD.
No ar pairou um odor impregnado de tensão.
De forma pouco simpática, o segurança disse que o carro não podia estar estacionado naquele local, Sara argumentou que não iria demorar muito tempo ali, só o estritamente necessário para esperar pelo marido que tinha ido "levantar" dinheiro.
O segurança revelou-se irredutível e ordenou que ela retirasse imediatamente o carro da frente da porta do banco.
O coração de Sara começou a palpitar cada vez mais depressa, ela tinha de pensar no que fazer rapidamente.
Ela pensou: "Filho da p*** de segurança... e agora, o que faço?!... Já sei, vou dar a volta ao quarteirão, estaciono no mesmo lugar e espero pelo Jorge... segurança estúpido, pensas que eu sou alguma burra?!" - é preciso compreender que ela teve de pensar rapidamente.

Assim que o Ford Escort arrancou, uma outra viatura - o Jaguar com Pamela a conduzir, ocupou o seu lugar.
O segurança reconheceu o carro dos patrões, caminhou até ele e abriu gentilmente a porta do lado do passageiro.
Ivo saiu apressadamente ignorando como só os patrões o sabem fazer, o funcionário.
Pamela ficou no carro à espera do marido.
O segurança conformado com a sua aparente invisibilidade e enquanto retornava ao posto de trabalho viu que Ivo e Jorge por pouco não se cruzavam, Ivo entrou por uma porta secundária e Jorge saiu logo a seguir pela porta principal do Banco com a banana numa mão e alguns sacos com dinheiro na outra.
Jorge ficou sem saber o que fazer quando viu o segurança a olhar para ele, instintivamente comeu a banana (talvez para ocultar a arma do crime, com este tipo nunca se sabe) e correu depois para dentro do Jaguar, Pamela sem sequer ver quem estava sentado ao seu lado arrancou.
O segurança não percebeu nada daquilo mas como viu o Jorge a entrar para dentro do carro dos patrões pensou que tudo estivesse bem.
Em relação ao Jorge ter confundido um Jaguar com um Ford Escort a explicação é simples: eles eram da mesma cor e isso é o suficiente para que alguém que esteja a fugir os confunda, especialmente se esse alguém acabou de assaltar um Banco... com uma banana.

O ar ainda estava contaminado com o cheiro da gasolina do Jaguar quando Sara entrou em cena novamente, ela parou o Ford Escort no exacto local onde já estivera antes.
O segurança não estava a ter um dia fácil, uma vez mais ele caminhou até ao carro.
Sara tentou parecer normal (não conseguiu), subitamente ela viu o vulto de uma pessoa a correr na direcção do carro por detrás do segurança, ela pensou que fosse o Jorge e começou a preparar o motor do carro para um arranque rápido.
Na realidade essa pessoa era o Ivo, arrogantemente ele empurrou o segurança para o lado dizendo que estava com pressa e entrou para dentro do Ford Escort.
Sara acelerou imediatamente.
O segurança nesse mesmo dia, aliás, instantes depois escreveu a sua carta de demissão.

Entretanto, Jorge e Ivo depois de percorrerem algumas centenas de metros distraidos, um a olhar para os sacos com dinheiro e o outro para o telemóvel, começaram a estranhar as paisagens por onde eles estavam a passar, os dois enquanto olhavam pelas janelas dos carros fizeram a mesma pergunta, às respectivas condutoras, ao mesmo tempo: "Mas tu passaste-te... onde vamos?!"
Pela primeira vez eles olharam-se nos olhos, a surpresa foi geral, principalmente para a jovem Sara que devido ao susto fez com que o Ford Escort caísse por uma ravina.
Sara e Ivo ficaram inconscientes (ela a dobrar).
Pamela apesar da enorme surpresa conseguiu, através de uma travagem brusca, fazer parar o Jaguar porém o carro que vinha logo atrás dela não conseguiu fazer o mesmo, o embate foi inevitável.
O condutor desse carro, um tipo parecido com o Brad Pitt (mas ao contrário... muito ao contrário), saiu para ver os estragos.

Pamela perguntou ao Jorge o que é que ele estava a fazer dentro do carro dela, ele ia a responder quando o “Brad Pitt” furioso bateu no vidro do carro.
Pamela e Jorge saíram do Jaguar.
“Brad Pitt” estava indignado, a frente do seu até então bem estimado Fiat 127 estava praticamente desfeita, o Jaguar sofreu apenas algumas amolgadelas.
O homem começava a ficar preocupantemente vermelho, parecia que ia explodir a qualquer momento, Pamela tentou acalmá-lo mas não estava a conseguir.
Jorge foi ao Jaguar, instantes depois ele voltou com alguns maços de notas nas mãos.
“Acha que isto é o suficiente para pagar o conserto do carro?”, perguntou ele enquanto entregava o dinheiro ao “Brad Pitt”.
Aparentemente aquele dinheiro era mais do que suficiente porque o homem assim que agarrou o dinheiro meteu-se no carro e “desapareceu”.
Já dentro do Jaguar, Pamela reparou nos sacos com dinheiro espalhados pelo chão do carro, ela perguntou ao Jorge onde é que ele tinha arranjado tanto dinheiro.
“Foi fácil, assaltei um Banco!”, respondeu ele com um ar de herói (ou seria imbecil?!).

Pamela era uma mulher que apesar de não querer parecer e fazer tudo por isso, era inteligente (casou com um milionário), não demorou muito tempo para que ela somasse os factos e chegasse à conclusão óbvia.
Perante o olhar perdido do Jorge, ela soltou uma enorme e sonora gargalhada.
“O Banco que você assaltou é do meu marido.” – disse ela ainda com um sorriso nos lábios, subitamente a expressão dela modificou-se, ficou séria e sombria: “ Aquele infiel… é bem feito, ele estava a precisar de uma boa lição… ele anda a trair-me com uma mulher mais nova que eu.” – continuou ela, Jorge ia a dizer qualquer coisa mas ela antecipou-se: “Olhe… quer sair disto ainda com mais proveito? Venha comigo à minha casa, eu sei a combinação secreta do cofre daquele otário, é lá que ele guarda o ouro.”
Jorge, uma pessoa que vivia constantemente no “mundo da lua” sentiu-se ainda mais confuso mas a mistura das palavras “cofre e ouro” fizeram com que ele acenasse positivamente com a cabeça à proposta da Pamela.
Pouco tempo depois eles estavam a caminho da mansão.
Pamela, enquanto conduzia, pegou no telemóvel e ligou para o Ivo.

A tentativa de comunicação resultou infrutífera uma vez que o telemóvel de Ivo, aquando do despiste do Ford Escort se tinha avariado.
Entretanto, aos poucos, Ivo e Sara recomeçaram a recuperar os sentidos, com alguma dificuldade os dois conseguiram sair do carro.
Sara assim que viu o estado em que tinha ficado a viatura desatou a chorar, Ivo viu o telemóvel dele no chão e apanhou-o.
"Tenha calma menina, felizmente ninguém se magoou... houve um engano, eu entrei no carro errado..." - disse ele enquanto mexia no telemóvel, "Bolas... o telemóvel não funciona."
Sara apenas dizia repetidamente que o marido dela a iria matar.
Ivo foi para a berma da estrada e ficou à espera que passasse algum carro, momentos depois Sara, um pouco mais calma, juntou-se a ele.
"Como é que isto foi possível?... eu e o meu marido estudámos o esquema durante alguns minutos... tudo parecia tão fácil no DVD." - queixou-se ela.
"Esquema?! Não sei do que é que a menina está a falar mas quero-lhe assegurar que irei pagar o conserto do seu carro, afinal a culpa foi minha..." - tranquilizou-a Ivo.
Logo de seguida eles viram um carro a aproximar-se, Ivo e Sara fizeram sinais para ele parar.
Depois de Ivo ter prometido uma boa recompensa ao motorista, este acedeu em dar-lhes boleia até à casa de Ivo.
Eles partiram no tal carro, um Fiat 127 com a frente bastante danificada e tendo como condutor nem mais nem menos que "Brad Pitt".

Os primeiros a chegar à mansão foram Pamela e Jorge, eles entraram e subiram até ao quarto onde estava escondido, atrás de um quadro, o cofre (ao que parece ter muito dinheiro não implica ser original).
Pamela escreveu a combinação que permitia abrir o cofre num papel e entregou-o ao Jorge.
Enquanto ele tentava pateticamente descobrir como tirar o quadro da frente do cofre, Pamela pegou no telemóvel e marcou um número.
Entretanto, o Fiat 127 tinha chegado à mansão, Ivo pediu ao "Brad Pitt" para aguardar uns instantes enquanto ele ia a casa buscar a recompensa pela boleia.
Sara entrou com Ivo.
"Brad" reconheceu o Jaguar estacionado à frente da mansão: "Olha quem está ali, o responsável pelos estragos no meu carrinho... vou-lhe fazer uma visitinha".
Ele aproximou-se do Jaguar e espreitou para dentro do carro, "Brad Pitt" nem queria acreditar naquilo que estava a ver: sacos com dinheiro espalhados pelo chão do carro.
Cuidadosamente, como quem não quer a coisa, "Brad" olhou em volta para ter a certeza que não estava a ser vigiado depois baixou-se e pegou numa pedra.

Dentro da mansão, Ivo contou à Sara que o carro estacionado lá fora era o da mulher dele e que por isso ela deveria estar em casa, pedindo para Sara esperar na sala, Ivo foi procurar a esposa.
Ele entrou no quarto no exacto momento em que Jorge tinha conseguido (finalmente) abrir o cofre.
"Mas... o que é isto, Pamela?! O que faz este homem aqui a mexer no meu cofre?!" - perguntou Ivo espantado.
"Querido... estás bem? Estava agora mesmo a tentar ligar para ti, eu posso explicar tudo..." - respondeu Pamela enquanto pousou o telemóvel.
Na sala, Sara ouviu o barulho de vidros a serem partidos na rua e foi espreitar pela janela, ela viu o "Brad Pitt" a entrar no Jaguar, preocupada decidiu ir avisar o Ivo.
"Descul... Jorge?! Tu estás aqui?" - disse Sara surpreendida assim que entrou no quarto e viu o marido lá dentro.
"Eu não acredito nisto..." - disse Jorge levando as mãos à cabeça - "És tu a amante deste tipo?!" - concluiu ele.
"Então sempre é verdade Ivo, tu tens uma amante, eu inventei isso para trazer este tipo até aqui e depois chamar a polícia por causa do dinheiro... mas afinal é mesmo verdade." - disse Pamela desoladamente.
"Espera aí... Jorge, tu não ias fugir com o dinheiro com esta cota, pois não?" - perguntou Sara furiosa.
"Alto lá! Vamos ver se nos entendemos... em primeiro lugar de que dinheiro estão vocês a falar?" - perguntou Ivo tentando pôr alguma ordem no quarto.
"Deve ser deste dinheiro aqui." - disse "Brad Pitt" mostrando os sacos com dinheiro que tinha numa das mãos.
Ele tinha sido atraído até ao quarto pelo barulho e pela prometida recompensa que estava a demorar.
"Todos com as mãos para cima, não estou para brincadeiras, sou um homem louco à solta." - gritou ele apontando ameaçadoramente com qualquer coisa que tinha escondida por baixo da t-shirt.
Pamela, Sara, Ivo e Jorge não tiveram outra alternativa que não fosse obedecer.
"Brad Pitt" aproximou-se cautelosamente do cofre e meteu todo o ouro que lá tinha num saco.
"Vou levar isto como recompensa pela boleia... vá lá, não fiquem tristes, olhem, como prova de que não guardo rancor por me terem estragado o carro eu deixo-vos ficar com ele... adeusinho." - disse "Brad Pitt" com um ar de trocista.
Rapidamente ele correu para o Jaguar, lá dentro pegou na banana que tinha usado como "arma" e comeu-a.
"Ainda bem que passei antes pela cozinha, abençoada banana!" - disse ele a olhar para o ouro.
Por fim, com uma gargalhada tipica de um louco arrancou a toda a velocidade atirando as cascas da banana pela janela.

Algum tempo depois:
Veneza, Itália, "Brad Pitt", de seu verdadeiro nome Konstantinov Bragança, saboreia uma deliciosa bebida enquanto passeia calmamente de gôndola na companhia do amor da sua vida.... o ex-segurança do Banco.

FIM

02/05/05

O Vento

Margarida pegou delicadamente no frasco do seu perfume predilecto e deixou cair duas gotas dele numa folha de papel onde acabara de escrever um poema de amor destinado ao... destino.
A extrema timidez e insegurança fizeram dela uma mulher sentimentalmente só, “resta-me sonhar” – costumava dizer ela às suas amigas, já quase todas casadas e com filhos.
Seguindo um ritual que criara há algumas semanas, Margarida atirou a folha perfumada pela janela do seu quarto ficando depois a olhar para ela até a perder de vista.
Secretamente Margarida tem a esperança que o vento se encarregue de levar aquelas palavras de amor até ao seu príncipe encantado.

Não muito distante dali, Miguel olhou uma vez mais para a fria carta de despedimento depois direccionou toda a sombria tristeza para a forte corrente do rio que passava por baixo daquela velha e abandonada ponte.
No momento em que Miguel ia a desistir de tudo, um capricho do vento ou do destino, fez com que a folha escrita por Margarida fosse ter aos seus pés.
O doce aroma emanado daquele pequeno papel levou a que Miguel pegasse nele.

As palavras doces e repletas de encantamento derramadas por Margarida naquele pedaço de esperança tocaram profundamente o Miguel.
O jovem homem virou costas ao terrivel propósito que o tinha arrastado até àquele inóspito local e agarrando-se à folha como se de uma bóia de salvamento se tratasse, jurou que iria tentar encontrar o autor ou autora daqueles versos pois foram eles que lhe salvaram a vida.

Miguel apostou na sorte, talvez se caminhasse contra a força do vento encontrasse alguma espécie de pista, pensou ele.
Irónico, o mesmo vento que lhe trouxe a esperança tornou-se naquele momento num obstáculo.
A busca de Miguel resultou infrutífera, contudo ele não estava disposto a ceder facilmente, nos dias que se seguiram ele retornou à velha ponte esperando que o vento voltasse a trazer nas suas marés novos pedaços de ilusão.

Numa dessas ocasiões, Miguel avistou uma criança a brincar com um barco de papel junto à margem do rio.
Os pais da criança, sentados na relva, estavam a conversar distraidamente quando o barco se afastou, o miúdo ao tentar agarrá-lo desequilibrou-se e caiu ao rio.
Vendo aquilo, Miguel lançou-se imediatamente à água e salvou o rapaz que entretanto agarrara o barco.
O pai da criança agradeceu ao Miguel aquele gesto e deu-lhe um cartão dizendo para caso o Miguel precisasse de alguma coisa para o procurar.
Quando Miguel se despediu do miúdo, este sorriu e deu-lhe o barco de papel.
Já sozinho, Miguel começou a olhar com curiosidade para o tosco barco e notou que nele tinham sido escritas palavras, palavras que lhe pareciam familiares, apesar de o papel estar molhado Miguel não teve dúvidas, aquele era mais um dos poemas de Margarida, seria aquilo um sinal?

Inesperadamente uma sorrateira rajada de vento roubou-lhe o papel das mãos, Miguel correu atrás da pequena folha, nessa altura ele cruzou-se com uma pessoa... uma mulher, o perfume dela fez com que Miguel parasse de correr, aquele cheiro era-lhe familiar.
Durante alguns instantes ele ficou na dúvida entre tentar conversar com aquela mulher que caminhava cabisbaixa ou continuar a seguir o poema... Miguel optou pela segunda hipótese.

O tempo, curador de males e insensível na mesma dose foi passando... decorreu uma semana desde aquele episódio.
Durante esses dias Miguel não encontrou uma palavra que fosse de Margarida.
Ele achou que estava na hora de seguir em frente com a vida, encheu os pulmões de coragem e marcou uma reunião com o Dr. Aguiar, pai do miúdo que ele tinha salvo de se afogar, um emprego era agora o objectivo de Miguel.

Na reunião, o Dr. Aguiar disse que Miguel estava com sorte uma vez que tinha surgido recentemente uma inesperada vaga para trabalhar na empresa, Miguel ficou encantado com a notícia.
Amavelmente o Dr. Aguiar levou o Miguel a conhecer o escritório disponível, assim que lá entrou Miguel sentiu no ar uma fragrância conhecida, a mesma emanada das folhas escritas por Margarida, intrigado Miguel perguntou o que tinha acontecido à pessoa que trabalhava ali.
O Dr. Aguiar “fechou a cara” e com uma voz pesarosa contou que essa pessoa tinha tido um final trágico, ela suicidou-se atirando-se de uma ponte, precisamente no dia e no local onde o Dr. Aguiar e o Miguel se tinham conhecido.

Uma lança afiada pareceu trespassar o coração de Miguel naquele momento, ele ficou pálido e teve de se sentar.
A sua memória foi iluminada como que por relâmpagos de imagens difusas da mulher que ele tinha visto a dirigir-se para a ponte naquele dia.
Alarmado com o estado de Miguel, o Dr. Aguiar foi apressadamente buscar um copo com água para o acalmar.
Miguel não esperou... movido por uma inesperada e incontrolável força levantou-se, saiu daquele lugar a correr e só parou em cima da velha ponte.
A vida tem coisas curiosas, o mesmo local pode significar o começo ou o fim, a esperança ou a desistência.
Miguel ergueu o olhar para o céu, talvez tentando encontrar alguém a quem deitar as culpas, sorriu ironicamente e depois pegou na folha de papel com o último poema de Margarida que havia encontrado.

Farto de sonhar, ele tentou atirar a folha ao rio mas o vento não o permitiu, uma estranha corrente de ar elevou-a e fez com ela fosse “bailando” suavemente até perto de uma mulher que estava sentada debaixo de uma árvore a observar o Miguel.
A mulher pegou na folha e leu o poema, Miguel viu depois essa mulher a aproximar-se dele com a folha na mão.
Em cima da ponte e parecendo que o vento os estava a unir, a mulher timidamente apresentou-se, o nome dela era… Margarida, a autora daquele poema.

FIM