05/10/09

Passei?

"Casting", esta palavra, passou – por diversas razões – a fazer cada vez mais parte do nosso vocabulário.
Para a grande parte das pessoas, ela está associada à escolha de actores ou cantores.

Porquê ser tão limitativo? Porque não, por exemplo, alargar a sua função para a escolha de políticos?

Vendo bem as coisas, políticos, actores e cantores fazem todos parte do mesmo ofício, o entretenimento popular.


Visualizem:

Jovem pretendente a político, entra timidamente numa sala sem janelas.

Lá dentro, é aguardado por um júri, composto por cinco políticos, mas estes não são uns políticos banais, têm de ser frios, calculistas, pretensiosos e arrogantes (estes são os predicados exigidos a um político, para conseguir escolher um outro semelhante).

O pretendente, coloca-se em frente dos juizes e aguarda.

Finalmente, é pedido ao jovem para referir qual deve de ser o papel de um político na actual sociedade.


- Ajudar os fracos e oprimidos, dar voz ao Povo, lutar por uma justiça igual para todos independente da raça, credo ou extracto social. Estar no fundo ao serviço do próximo, sem esperar nada em troca. - respondeu de forma segura, o aspirante a político.


Assim que o jovem terminou a resposta, fez-se um silêncio profundo na sala.

O jovem candidato começa a tremer de receio.

Os juizes parecem estátuas.

Subitamente, um dos juizes começa de uma forma lenta e compassada a bater palmas.

Um a um, todos os outros juizes fazem o mesmo, o ritmo das palmas cada vez aumenta mais.

O jovem começa a abrir um ligeiro sorriso nos lábios e resolve perguntar:


- Passei?


Nisto, com uma precisão para lá de matemática, todos os elementos do júri cessam de bater palmas ao mesmo tempo.

Volta o frio silêncio.

O aspirante a político, desta vez, com muito receio, volta a perguntar:


- P- Passei?


O elemento mais velho do júri, decide então falar:


- Passou, jovem amigo, passou. – um ar de alivio surge no rosto do jovem que desta vez exibe um enorme sorriso de orgulho. O jurado continua:


- Passou... passou completamente ao lado. Ajudar os fracos e oprimidos? Dar voz ao Povo? Lutar por uma justiça igual para todos? Você só pode estar a brincar connosco, ou então, enganou-se na sala, o casting para missionários é na sala ao lado. Adeus.


O jovem tenta responder, mas está visivelmente perturbado. – percebe-se.


- Mas... Mas...

- Qual mas! Ponha-se imediatamente na rua homem, e não volte sequer a tentar manchar o bom nome dos políticos. Rua, já disse.


Cabisbaixo, lentamente o jovem caminha na direcção da porta, ainda olhou uma última vez para os juizes, mas em vão.


- Rua. – disseram todos em uníssono.


Apesar deste trauma, o jovem, jurou a si mesmo que um dia ainda havia de conseguir ser político, nem que para isso fosse necessário alterar todos os seus valores morais.


Apraz-me, por fim, dizer que o jovem conseguiu realizar o seu sonho, e é hoje Primeiro-Ministro.

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