29/06/10

A Dança


... e dançamos.
Dançamos entre as palavras não ditas,
Minhas mãos,
Apaixonaram-se pelas tuas.
Bocas coladas,
Olhos sorriam em vez delas.
Dois corpos,
Hermeticamente fechados num só.
... e dançamos.
Dançamos até a noite se ir embora.
E eu que nem sequer sabia,
Que sabia dançar.
 





( voz de @Rmmbarros )

28/06/10

Ilustração


O meu amigo @RodBispo teve a amabilidade ( e muito talento ) de fazer esta ilustração, tendo como inspiração o conto que escrevi "O Rapaz Que Queria Pintar O Céu" ... eu agradeço-lhe aqui publicamente :)

22/06/10

Rewind


Tu...
.
Tu és agora,
Uma folha arrancada,
Do livro da minha vida.
.
Levaste contigo,
As minhas melhores palavras,
Aquelas que inventei para ti.
.
O mais doloroso,
Não foi ter-te perdido,
Foi nunca ter-te tido.
.
Raios, mulher...
Porque insistes em ser feliz,
sem mim?

14/06/10

Arrependimento


Deixou cair o corpo na cama,
A fraca luz,
Oferecida pelo velho candeeiro,
Sua única companhia.
.
Fechou os olhos…
Pensou no beijo.
.
Humedeceu os lábios,
Mordiscou-os,
Procurou o sabor.
.
Tentou lembrar-se…
Queria lembrar-se…
.
Sentiu então amargura na boca…
Era o sabor das lágrimas.
.
Esse beijo…
Esse beijo nunca foi dado.
.
(resposta ao desafio: "arrependimento")

01/06/10

O Rapaz Que Queria Pintar O Céu


Senhoras e senhores, apresento-vos, Zé do Céu… é ele que ali vai… sim, aquele homem de meia idade, magro, de cabelos despenteados e barba de três dias, reparem no macacão que ele tem vestido… está cheio de tinta, mas sobretudo reparem na forma absolutamente tranquila como ele caminha… assobiando para o ar daquela maneira, dir-se-ia que o Zé do Céu acabou de realizar um sonho… e foi isso mesmo que acabou de acontecer.
Mas para melhor entenderem a razão de tudo isto, é necessário recuar na linha do tempo, acompanhem-me, se quiserem, nessa pequena viagem.

José Mário Gonçalves, ou simplesmente, o Zé, nasceu no seio de uma família de artistas, o pai era pintor e a mãe tocava piano.
Sem irmãos, o pequeno Zé, teve de inventar sozinho as suas próprias brincadeiras, uma delas, certamente influenciado pelo pai, era misturar cores.
Nenhuma parede da casa onde o Zé nasceu, tinha apenas uma cor, os grandes espaços pintados com uma só cor, desagradavam-lhe imensamente… e que maior espaço existe, que o céu?
“Não quero o céu azul!” – protestava frequentemente, o pequeno Zé… graças a essas reclamações, um dia ele ganhou a bem merecida alcunha de Zé do Céu.
Enquanto crescia, o miúdo idealizou centenas de “planos infalíveis” para mudar a cor do céu, um desses planos, consistiu em encher um balde com tintas de diversas cores e… atirar a tinta para o ar… suponho que o Zé tivesse a secreta esperança que a tinta ficasse agarrada ao céu… no final do dia , esse “plano infalível” revelou-se uma grande desilusão para o rapaz.
Apesar de todas as “derrotas”, o jovem Zé manteve-se fiel ao seu sonho, ele nunca deixou de acreditar que era possível pintar o céu.
Porém, a linha do tempo, indiferente aos sonhos de cada um, foi avançando, Zé do Céu cresceu, tornou-se escultor, casou e teve um filho, o Pedro.

Quando o Pedro fez 10 anos, Zé do Céu prometeu ao filho que o levaria, no dia seguinte, a um lugar mágico.
Pois bem, esse dia chegou hoje… foi há poucos momentos que o Zé trouxe o Pedro, até este grande e verdejante vale, para lhe mostrar finalmente, a famosa “escultura secreta”, aquela que tanto tempo da vida do Zé do Céu ocupou.
Pedro teve dificuldade em acreditar nos seus olhos… diante dele estava um arco de ferro, mas este não era um arco banal, o arco era tão imenso, que visto desde o chão dava a sensação de tocar no céu.
“É hoje, filho… é hoje que vou pintar o céu!” – disse o Zé sorrindo, enquanto punha as mãos nos ombros do Pedro.
Depois de dar mais um beijo no filho, Zé do Céu pegou em algumas latas com tinta e iniciou a subida do arco.
A conquista do arco foi longa e difícil, a meio do percurso, Zé do Céu sentiu-se cansado, teve de parar… nesse momento, vieram-lhe à memória as muitas dificuldades que teve de superar para construir o arco, lembrou-se do esforço e da dedicação que teve de ter, mas sobretudo, lembrou-se que nunca desistiu… e não seria agora que iria desistir… Zé do Céu olhou para o filho, encheu os pulmões de coragem e com uma energia redobrada, retomou a escalada do arco.

Já no ponto mais alto do arco, Zé do Céu convenceu-se que bastaria esticar o braço para tocar no céu… quando ele tentou esse arriscado movimento, desequilibrou-se… com receio de cair, Zé do Céu agarrou-se rapidamente ao arco, fazendo com isso, com que as tintas escorressem pelo arco abaixo.
O Pedro sentiu a tristeza do pai e temeu pela sua segurança, mas assim que teve a certeza que tudo estava bem, o miúdo esboçou um caloroso sorriso.
Zé do Céu não tinha mais nada a fazer lá em cima, desiludido, desceu lentamente o arco.
Assim que ele tocou terra firme, o filho correu para os seus braços... antes que Zé do Céu dissesse qualquer palavra, Pedro sorrindo, apontou para o arco.
Zé do Céu compreendeu então o entusiasmo do Pedro, e com as palavras carregadas de ternura, disse-lhe: “Filho... os sonhos nem sempre se concretizam como nós os imaginamos... sabes, às vezes, com um pouco de sorte... eles saem até bem melhores. Anda, vamos chamar a tua mãe, tenho a certeza que ela vai gostar de ver o arco.”.
Mais tarde, Zé do Céu homenageou a esposa, atribuindo o nome dela, ao arco... e foi rigorosamente assim que nasceu, o agora famoso, Arco-Irís.
A propósito, vou contar-vos um segredo... diz-se que no fim do arco-irís há um pote de ouro, isso não é verdade, o que tem lá, são as latas de tinta que o Zé do Céu deixou cair... sei disso, porque tenho uma dessas latas em minha casa.

(Dedicado a todas as pessoas que nunca deixaram de acreditar nos seus sonhos)

(resposta ao desafio “não quero o céu azul”)