26/01/10

Vidro Riscado



Era uma vez um vidro riscado.
O vidro estava colocado numa enorme porta, de uma enorme sala, que dava acesso a uma enorme varanda... o risco também era enorme.
No meio de toda aquela grandiosidade, o vidro riscado não destoava, era impossível não reparar nele.
Toda a gente que ia aquela casa apontava-lhe sempre o dedo, diziam ser inestético e que aquele vidro riscado tinha de ser substituído.

O vidro riscado não era capaz de esconder a tristeza que tinha dentro si, afinal, que culpa tinha ele de ser assim?
O dono da casa, farto de ouvir toda a gente a falar mal do vidro riscado, tomou uma atitude: chamou um vidraceiro, para substituir o vidro riscado.
O vidro liso, sem riscos, da mesma enorme porta, bem que tentou animar o vizinho riscado, mas foi inútil.

Numa tarde de sol, o dono da casa estava a olhar para a rua, através do vidro riscado, quando uma coisa lhe chamou a atenção.
O risco... o risco no vidro parecia-lhe claramente a forma de uma seta, uma seta que apontava para uma mulher que estava sentada no banco do jardim, lá fora.
Instantes depois o vidraceiro tocou à campainha, ele trazia um vidro imaculado, sem riscos, para substituir o vidro riscado.
O dono da casa olhou para o vidro riscado e, pedindo desculpa, mandou o vidraceiro embora.

Anos mais tarde, o mesmo vidro riscado continua naquela enorme porta, daquela enorme sala, que dá acesso aquela enorme varanda.
Como poderia o dono da casa desfazer-se daquele maravilhoso motivo de conversa? Afinal, foi aquele vidro riscado que o ajudou a encontrar a esposa... ela era a mulher que, anos antes, estava sentada no banco do jardim.

FIM






(Voz de @vilmacorreia)

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