31/03/07

Era uma vez um tipo que queria comprar um frigorífico

Era uma vez um tipo que queria comprar um frigorífico.
Após alguma pesquisa na Internet, o tipo, finalmente, decidiu-se por um modelo específico.
Inocentemente ele deslocou-se, numa sexta-feira à noite, até a um desses centros comerciais, onde a maioria das pessoas gostam de passar o tempo a esbarrarem-se umas nas outras, mas este tipo não, ele sabia exactamente o que estava ali a fazer e foi, por isso, direito à secção de electrodomésticos, mais concretamente à zona onde estavam os frigoríficos.
A negociação foi fria e rápida, a “vendedora” ainda sabia menos sobre frigoríficos que o tal tipo, daí que ele pagou o electrodoméstico imediatamente, via Multibanco… dizem que assim, sem ver o dinheiro a sair da carteira, dói menos.
Um frigorifico é, normalmente, uma coisa grande, ou seja, é difícil de transportar num veículo utilitário, por isso o tipo pediu para que o frigorifico lhe fosse entregue em casa.
A “vendedora” garantiu, quase que sobre a vida dela, que na próxima segunda-feira, sem falta, o frigorifico lá iria estar, mais ou menos entre as 14 horas da tarde e as 20 horas da noite… o tipo sorriu, ele pensou que fosse uma brincadeira, mas a cara da “vendedora” dizia-lhe claramente que não, a coisa era a sério.
Resumindo: após múltiplos telefonemas, esquemas, incompetências, e, novamente, telefonemas, o tipo só teve o frigorifico em casa na quinta-feira… da semana seguinte.
Por tudo isto apetece dizer, ou melhor, gritar: “Não Worten, Nunca!”

PS: o tipo era eu.

FIM

23/03/07

Era uma vez um vidro riscado

Era uma vez um vidro riscado.
O vidro estava colocado numa enorme porta de uma enorme sala, que dava acesso a uma enorme varanda... o risco também era enorme.
No meio de toda aquela grandiosidade, o vidro riscado destoava, era impossível não reparar nele, toda a gente que ia aquela casa apontava-lhe o dedo, e diziam ser inestético, diziam ainda que aquele vidro riscado tinha de ser substituído.
O pobre vidro riscado não era capaz de esconder a tristeza que tinha dentro dele, que culpa tinha ele afinal de ser assim?
O dono da casa, farto de ouvir toda a gente a falar mal do vidro riscado, tomou uma atitude: ele chamou um vidraceiro para substituir o vidro riscado.
O vidro liso da mesma porta, bem que tentou animar o vizinho riscado mas foi inútil.
Numa tarde de sol, o dono da casa estava a olhar para a rua através do vidro riscado, quando uma coisa o obrigou a desviar o olhar.
O risco... o risco no vidro parecia-lhe claramente uma seta, uma seta a apontar para uma mulher que estava sentada no banco do jardim lá fora.
Instantes depois o vidraceiro tocou à campainha, ele trazia um vidro imaculado para substituir o outro.
O dono da casa olhou para o vidro riscado e, pedindo desculpa, mandou o vidraceiro ir embora (claro que pagou a deslocação do tipo).
Anos mais tarde o vidro riscado continua naquela enorme porta, daquela enorme sala, que dá acesso aquela enorme varanda.
Como poderia o dono da casa desfazer-se daquele maravilhoso motivo de conversa? Afinal foi aquele vidro riscado que o ajudou a tomar a decisão de casar com a mulher que estava sentada no banco do jardim.
FIM

16/03/07

Era uma vez um sapato

Era uma vez um sapato preto, o seu nome era 42, pelo menos era isso que ele pensava uma vez que esse algarismo estava inscrito na parte debaixo dele.
42, por motivos que eu próprio desconheço, separou-se do outro par.
Ele vivia dentro de uma velha caixa de cartão azul, azul-escuro.
Muitas vezes, 42 sentia-se triste, isto porque ele ficava a ver os outros pares de sapatos a passear e ele estava ali, sozinho.
Farto daquela situação, 42 decidiu tomar uma atitude, ele abandonou a velha caixa de cartão azul, azul-escuro, e caminhou pelo Mundo fora… ou melhor, saltitou pelo Mundo fora à procura do par.
A vida de um sapato não é fácil, especialmente se ele estiver sozinho, 42 teve de enfrentar muitos e grandes perigos, como fugir de cães estúpidos que adoram roer sapatos, saltar por cima de poças de água contaminada, atravessar passadeiras, e muitos, muitos outros perigos.
No decorrer da viagem, o sapato preto fez amizade com uma sapatilha rosa, ela também andava à procura do par.
Os dois, embora completamente diferentes, entenderam-se e ficaram amigos.
O 42 só não gostava quando a sapatilha decidia correr, é compreensível, os sapatos não foram feitos para correr… acho que a sapatilha sabia disso e apenas queria brincar com o amigo.
A amizade entre os dois cresceu e transformou-se em amor… quer dizer, o amor possível entre um sapato preto e uma sapatilha rosa.
Os dois deram o nó, literalmente, e caminham actualmente juntos por este Mundo fora, agora eles já não procuram par, querem é demonstrar, com o exemplo deles, que apesar das diferenças é possível as pessoas, ou sapatos, viverem juntos e serem felizes.
Por isso, se algum estranho dia virem um sapato preto, de nó dado, com uma sapatilha rosa, não estranhem, é o 42.

FIM