16/03/06

Bú, O Ursinho

Era uma vez um urso, um ursinho na realidade.
Ele vivia com os pais numa linda floresta perto de um grande rio, o ursinho gostava muito desse rio porque era lá que ele ia pescar a sua comida preferida: salmões.
Bú, assim se chamava esse ursinho, também gostava de comer muitas outras coisas deliciosas como por exemplo amoras e mel, mas sem sombra de dúvidas que a sua comida predilecta no mundo inteiro eram os salmões.
Bú parecia ser um ursinho feliz, ele tinha uma família que gostava muito dele e tinha dois grandes amigos: um esquilo chamado Pintas e um porco selvagem chamado Piano, apesar disso, Bú não era inteiramente feliz, faltava-lhe qualquer coisa, principalmente faltava-lhe coragem para dizer à ursinha Flor que ele gostava dela.
Bú quando estava com os amigos Pintas e Piano era muito alegre e confiante mas quando estava com outros animais que não conhecia tão bem, ficava sempre muito inseguro e calado, tudo isto acontecia porque Bú tinha um pequeno problema, ele era gago.
Ele sentia tanta vergonha por ser o único urso gago na floresta inteira que um dia, quando a ursinha Flor lhe perguntou se ele queria brincar com ela, Bú teve tanto medo de começar a gaguejar que acabou por não dizer nada, Flor ficou muito triste nesse dia porque pensou que o Bú não queria brincar com ela.
Pobre Bú, ele bem que gostava de dizer à Flor que sim, que queria brincar com ela e que ela era muito bonita mas o ursinho teve receio que Flor fizesse como alguns colegas da sua escola e se começasse a rir dele…só por ser gago.
Numa certa tarde de Verão, Bú encontrou-se, como era hábito, com o esquilo Pintas e o porco Piano, debaixo da árvore mais alta da floresta.

- Então malta, o que vamos fazer, hein? Digam lá, o que vamos fazer? – perguntou o sempre irrequieto e cheio de energia Pintas.
- Pintas, está muito calor, é melhor ficarmos aqui a tarde toda debaixo desta deliciosa sombra. – disse o gordinho e pachorrento porco Piano.
- Vá lá, vamos fazer alguma coisa. – insistiu o Pintas.
- Bú, diz ao Pintas para estar quieto, eu fico a suar só de o ver aos pulos. – disse o Piano.
- C-c-calma pessoal, deixem-me pensar n-n-numa coisa para fazermos. – disse o ursinho Bú a sorrir.
- Então, Bú… já pensaste, já? Onde vamos? – perguntou o Pintas, enquanto andava à volta do porquinho Piano.
- Pintas, pára com isso, já estou a ficar tonto. – disse o Piano.
- Já sei! Que tal irmos dar um m-m-mergulho no rio? A água deve de estar d-d-d-deliciosa. – sugeriu o ursinho.
- Boa! É isso! Vamos lá. – disse o Pintas entusiasmado.
- Nem pensar, o rio é muito perigoso, além disso está muito calor para andar, eu não saio daqui. – protestou o Piano.
- P-p-podemos nadar na parte baixa do rio, ali não há p-p-problema, que tal? – disse o Bú.
- Não, eu não saio mesmo daqui. – afirmou o Piano.
- Olha, então vais ficar aqui a tarde toda sozinho, sem ninguém para falar nem brincar, vamos Bú? - respondeu o esquilo Pintas enquanto piscava o olho.

O ursinho Bú e o esquilo Pintas começaram a andar em direcção ao rio.

- Ei, malta! Esperem lá por mim, também vou, não quero ficar aqui sozinho… mas por favor, andem devagar, está bem? - disse conformadamente o porco Piano.

Piano juntou-se aos amigos e os três foram tomar um refrescante banho no rio.
Eles estavam entretidos a brincar na água quando de repente…

- E-e-esperem! Vocês não ouviram nada? – perguntou o Bú.
- Não, eu não ouvi nada… acho que tu deves ter ouvido o estômago aqui do Piano a dar horas… eh,eh,eh. – disse com ar de troça o esquilo Pintas.
- Que engraçadinho que tu és, Pintas. Vê lá se te caem os dentinhos. – respondeu zangado o porco Piano.
- Anima-te, amigo… eu estava a brincar contigo mas olha que já começo a sentir fome e que tal se nós…
- SOCORRO! – grita alguém, interrompendo o Pintas.
- Estão a ouvir? Eu tinha razão, alguém está em apuros… vamos. – disse o ursinho Bú.

Os três amigos saíram da água e correram rapidamente na direcção daquele pedido de ajuda… bem, o porco Piano teve algumas dificuldades em acompanhar os amigos mas a verdade é que ele se esforçou ao máximo.
O esquilo Pintas como era o mais leve e rápido foi o primeiro a ver o motivo daqueles gritos de socorro.

- Malta, malta… olhem ali, dentro do rio… é o Jeremias.

O ursinho Jeremias é o irmão mais velho da Flor, ele é colega de escola dos nossos amigos.

- Ele corre p-p-perigo! Porque é que ele veio nadar para a parte p-p-perigosa do rio?
Se ele largar aquela r-r-rocha a corrente vai arrastá-lo até à q-q-queda d’água.- disse o Bú.

Enquanto Jeremias continuava a pedir ajuda, o porco Piano chegou finalmente perto dos amigos.

- Aquele ali não é o Jeremias? … puff… puff… - perguntou o Piano, ainda a tentar recuperar o fôlego.
- É ele mesmo, o tal que passa a vida a gozar com nosso amigo Bú só porque ele gagueja de vez em quando. – disse o esquilo.
- Pois, e esse Jeremias também gosta muito de me chamar nomes, só porque eu sou assim… cheiinho. – disse o porquinho Piano cruzando os braços.

O ursinho Bú virou-se para os amigos e disse:

- Agora não podemos pensar nessas coisas, o Jeremias está em a-a-apuros, nós temos de o ajudar.

O Pintas e o Piano concordaram, era preciso fazer alguma coisa para ajudar o Jeremias.
Depois de pensar durante algum tempo, Bú teve uma ideia.
Ele pediu ao esquilo Pintas para subir a uma árvore e trazer o galho mais comprido que encontrasse, depois, já com o galho numa das patinhas, Bú aproximou-se da margem do rio, pedindo depois ao porquinho Piano, que tinha muita força, para agarrar na sua outra patinha, Bú inclinou-se o mais que conseguiu, tentando assim chegar com o galho até onde estava o pobre Jeremias.

- Jeremias, tenta agarrar o galho, nós depois puxamos-te. – gritou o Bú.
- Cuidado, malta! Tenham cuidado. – disse o esquilo Pintas preocupado.

Felizmente o plano do Bú deu resultado. Jeremias conseguiu agarrar-se ao galho e depois foi só puxá-lo para fora do rio.

- Viva, viva, conseguimos! – gritou o Pintas aos pulos.

O ursinho Jeremias, todo molhado, agradeceu muito a ajuda e prometeu nunca mais fazer troça de ninguém.
Ele contou que caiu dentro do rio porque escorregou quando estava a brincar com um amigo muito perto da margem, e como esse amigo não sabia o que fazer foi a correr pedir ajuda aos adultos.

- O importante é que t-t-tudo está bem agora, não é pessoal? – disse com ar feliz o ursinho Bú.
- Claro, mas toda esta ginástica abriu-me imenso o apetite. – disse o porquinho Piano enquanto esfregava a barriguita.
Todos deram uma gargalhada.

Instantes depois apareceu, muito aflita, a família do ursinho Jeremias, ele tratou logo de acalmar todos dizendo que estava bem e que tinha sido salvo graças à coragem do Bú.

- O-o-ora, não foi nada, sem a ajuda dos meus amigos Pintas e Piano eu não teria conseguido f-f-fazer nada. – disse o Bú com ar envergonhado.

Todos estavam felizes e aos poucos começaram a regressar às suas casinhas, o ursinho Bú ficou sozinho a olhar para o pôr-do-sol.

- Bú? – disse a ursinha Flor ao aproximar-se dele. – Queria agradecer-te por teres salvo o meu irmão, foste muito, muito corajoso, obrigado. – disse ela.
O ursinho, com medo de começar a gaguejar muito não disse nada, apenas sorriu.
Flor sorriu-lhe e depois virou-se para ir para casa.

- F-F-Flor. – disse timidamente o ursinho. – Posso te a-a-a-a-acompanhar até c-c-casa? – perguntou ele.
- Claro! – respondeu a ursinha Flor a sorrir.

Os dois ursinhos deram as patinhas e caminharam juntos na direcção do pôr-do-sol.
Muitos anos mais tarde o Bú e a Flor casaram um com o outro, tiveram lindos filhotes e foram felizes para s-s-sempre.

FIM

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