Na realidade o homem concentrava a sua atenção num ponto específico: o monte mais alto da aldeia vizinha, onde um outro homem, sensivelmente da mesma idade, realizava o mesmo ritual de subir ao cimo do monte todos os dias.
Religiosamente, os dois homens passavam duas horas do dia simplesmente a olharem-se ao longe.
As duas aldeias, fartas de não obterem qualquer tipo de explicação para aquele estranho fenómeno, decidiram pôr os dois velhos frente a frente pela primeira vez.
Assim, a meio caminho entre as duas aldeias e com as respectivas populações presentes em peso, os dois homens foram postos cara a cara.
Todos aguardavam com enorme expectativa pelo desvendar do mistério.
Os dois velhos olharam-se nos olhos, fizeram uma pausa e depois subitamente desataram a chorar desalmadamente.
Sabem, apesar de todos aqueles anos, os dois homens nunca se tinham visto de perto, na verdade eles julgavam que a pessoa que estava sentada no outro monte era… uma mulher.
Sem saberem como nem porquê, os dois apaixonaram-se por aquela imagem.
Eles viveram décadas na ilusão de que “ela” era a mulher das suas vidas e que mais cedo ou mais tarde “ela” iria tomar a iniciativa de se aproximar.
Foi um dia duro aquele, para os dois velhos homens, contudo serviu para que eles aprendessem e ao mesmo tempo ensinassem uma grande lição de vida: não se pode passar uma vida inteira a fantasiar, às vezes, digo, muitas vezes, é bem melhor confirmar os dados… pelo sim, pelo não.
Desde aquele dia nunca mais ninguém foi visto sentado no cimo daqueles montes… até eu aparecer.
FIM
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