03/01/05

Genesis

Espaço, a derradeira fronteira.

Diário do Capitão:

ANO – 2005.
LOCALIZAÇÃO ACTUAL – Quem me dera saber.
DESTINO – Havemos de lá chegar.
NAVE ESTELAR - BRONKITE IV
CAPITÃO – Kirque Silva.

"Estas jornadas espaciais têm sido verdadeiramente fascinantes, quando embarcámos neste difícil empreendimento com o objectivo de descobrir um novo planeta para viver (vale a pena relembrar que tanto eu como a inteira tripulação deste engenho voador não tivemos qualquer tipo de responsabilidade naquilo que aconteceu ao planeta onde vivíamos anteriormente, ainda não foi provado de uma forma clara e inequívoca que a sua inteira e total destruição tenha sido causada por aquele pequeno míssil)... mas como escrevia, quando embarcámos nunca imaginámos sequer as extraordinárias aventuras que iríamos viver.
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Ainda ontem capturámos as mais estranhas criaturas que alguma vez vi na vida, o Doutor pediu-me um pouco mais de tempo para fazer todos os testes e descobrir realmente o que são aqueles incógnitos seres.
Esta noite tenho um encontro quente, é com a UNIDADE V18… acho que vou ter sorte.
O motor direito do lado esquerdo da Bronkite anda a fazer uns barulhos estranhos… será que devo pôr perfume?! Tenho algum receio que a inalação deste gás possa provocar qualquer tipo de dano à UNIDADE V18.
Tenho de mandar o Chefe das Máquinas dar uma vista de olhos ao motor com problemas… que se lixe, vou pôr o perfume.
Acabo de receber via fax o relatório do Doutor acerca das criaturas capturadas… Meu Deus, é incrível!
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Custa-me a aceitar que ainda hoje, em pleno ano 2005, a porcaria do papel de fax ainda saia praticamente imperceptível e para piorar a situação não percebo o raio da letra do Doutor, vou ter de passar o documento pelo aparelho de tradução instantânea.
Acho que exagerei no perfume, Baltazar, o meu canário de estimação deixou de emitir qualquer tipo de sinal de vida.
Espero bem que o mesmo não suceda à UNIDADE V18, ela deixa-me extremamente excitado e… tenho de começar a pensar bem naquilo que escrevo neste diário, nunca se sabe quem é que pode deitar os olhos por ele um dia, a propósito, gostava imenso de conhecer o engraçadinho que teve a genial ideia de obrigar o capitão da Bronkite a escrever este ridículo diário… e logo pela manhã.
O documento já está traduzido, segundo o Doutor as criaturas que capturámos ontem são… Meu Deus, é incrível!
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Baltazar ressuscitou!
Ainda bem, já começava a ter imensas saudades do pequeno e de todos os momentos de felicidade que vivemos juntos, partilhámos muitas coisas, eu e o meu canário Baltazar, coisas profundas, intimas até.
Desde que Baltazar está comigo que eu cuido dele como se fosse um de nós… e já lá vão duas longas horas.
Aqui o tempo passa muito lentamente, acho que a falta de gravidade tem influência nessa matéria mas não tenho a certeza… a única certeza que tenho é que estou apaixonado, como nunca estive antes, devo acrescentar.
Quando ao meu pensamento vem a imagem sublime da UNIDADE V18, o meu coração parece bater com tanta intensidade como um baterista de heavy metal bate na sua bateria… não, afinal o barulho que ouço vem do maldito motor avariado, tenho de mandar consertar aquela coisa rapidamente.
Finalmente acabo de ler o relatório do Doutor… não posso acreditar... Meu Deus, é incrível!
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Está na hora do meu encontro com a UNIDADE V18, tenho de me despachar!
Amanhã irei sem falta mandar o Chefe das Máquinas consertar o motor com problemas.
Junto em anexo o fax com relatório do Doutor:

RELATÓRIO 01 – CRIATURAS CAPTURADAS:
Caro Capitão Kirque Silva, os dois seres capturados parecem ser perfeitamente inofensivos, eu diria mesmo que eles são pura e simplesmente estúpidos.
Através das nossas pesquisas ficou claro que eles não são providos de qualquer tipo de inteligência, contudo, e para um posterior estudo mais pormenorizado decidimos colocar os “seres” dentro das câmaras de gás.
Cientificamente, eu e os meus colegas de laboratório, resolvemos designar as criaturas capturadas de: HUMANOS.
Porém como eles são dois, para os diferenciar resolvemos também atribuir-lhes nomes, assim, e como aparentemente a única diferença entre eles é a forma como expelem um estranho liquido, decidimos chamar, ao que expele o liquido de pé, de ADÃO, o outro será EVA.
FIM DO RELATÓRIO.”
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Pouco tempo depois do Capitão Kirque abandonar os seus aposentos e precisamente na altura em que ele ia declarar o seu incondicional amor à UNIDADE V18, a nave estelar Bronkite IV, devido aos problemas no motor, despenhou-se sobre um pequeno e desabitado planeta.
Apenas dois sobreviveram à colisão, nomeadamente: Adão e Eva… o resto é outra história.
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FIM

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