...
assim que o rapaz saiu da biblioteca, depois de ele ter pousado
cuidadosamente o novo livro em cima da velha secretária de madeira
, gerou-se um enorme alvoroço na biblioteca.
Vozes, vindas de todas as
prateleiras que tapavam as quatro paredes da divisão, ecoaram
abruptamente... eram as vozes dos livros, todos eles tentavam
adivinhar o que estaria escrito nas páginas do novo livro.
Visivelmente
assustado com tudo aquilo, o novo livro manteve-se em silêncio.
Subitamente,
uma voz forte e autoritária sobrepôs-se a todas as outras, era o
voz do velho Atlas, o livro mais sábio e antigo de toda a
biblioteca.
“Silêncio!
Não estão a ver que o pequeno livro está assustado?" - repreendeu
o Atlas, depois ele continuou: “Olá, jovem livro... não tenhas medo,
como te chamas?"
O
livro não respondeu.
“Bom,
diz-nos... qual é o tema das tuas páginas, elas falam do quê? São
sobre grandes feitos da Humanidade?" - questionou o velho
Atlas, rapidamente interrompido por um livro de aventuras
policiais: “Aposto que nas páginas dele devem estar mil
aventuras... perseguições, mistério, perigos...”.
Nesse
momento, todos os outros livros começaram a sugerir possiveis temas
para as páginas do novo livro... até que finalmente, o livro
falou:
“Estão
em branco...” - disse ele, com uma timida voz.
Fez-se
total silêncio, depois o Atlas perguntou: “O
que foi que tu disseste?”
O
pequeno livro respondeu: “Em branco, as minhas páginas estão em
branco... eu... o meu nome é Diário... ao contrário
de todos vocês, ainda não tenho nada para contar... suponho que
não devo ser muito importante.”
O rapaz do
início da história, era eu.
Anos mais
tarde, o pequeno Diário ficou com as páginas todas escritas... de
certo que ele não se transformou no livro mais importante do
mundo... mas ele é, sem dúvida, o livro mais importante do meu
mundo.
(Dedicado a
todos os diários)