27/08/10

Ela, a Mel


Tu não sabes, mas…
À noite,
Enquanto dormes,
Eu observo-te.

Certa noite…

Certa noite,
Dei contigo a escrever,
Escrevias desalmadamente…
Como se o próprio mundo,
Corresse o risco de explodir,
Caso parasses.

Afinal,
Fizeste uma pausa,
Para afastar as lágrimas dos olhos,
E o mundo nem sequer suspirou.

Nessa mesma noite,
Flutuava uma música,
Era sobre sonhos,
Tu e os sonhos…

Se numa outra noite,
Eu voltar a ter a sorte,
De te encontrar acordada,
Serei eu a sorrir-te.
Exactamente da mesma forma,
Como tu sempre me sorris,
Enquanto durmo.

Minha doce e querida,
Melancolia.

19/08/10

Dia Mundial da Fotografia



Hoje é o Dia Mundial da Fotografia... só muito recentemente descobri o prazer que é fotografar (desde que comprei a máquina fotográfica em Janeiro de 2010), essa descoberta têm se revelado extremamente agradável e surpreendente para mim.
Estas duas fotografias são, provavelmente, as melhores que tirei até hoje.
Existem muitas definições, ou ideias, para resumir o que é fotografar... a minha é que fotografar tem a incrivel capacidade de capturar o que não existe... o tempo.
.

12/08/10

Descobrir


Encontrei-te entre as ondas do mar...
.
Foi ao descobrir-te,
Que me descobri.
.
Entreguei-te a minha verdade,
Embrulhada num presente.
.
O Tempo...
O Tempo fez o laço,
Que uniu a minha,
À tua verdade.

04/08/10

Box

Procurei-te incessantemente,
No lugar,
Onde eu próprio me escondo.
Estas quatro paredes,
São testemunhas silenciosas.
Se elas falassem...
Se elas falassem,
Contar-te-iam tudo aquilo,
Que eu,
Muito simplesmente,
Não sou capaz de contar.
(até agora...)

29/07/10

O Salto

Reza a história que eles esperaram que o mundo adormecesse e que a lua acordasse.
O ponto de encontro foi o "Penhasco Eterno".
Ele subiu para um lado e ela para o outro.
O plano deles era saltarem para os braços um do outro, na esperança que esse mesmo abraço, se tornasse eterno.
À meia-noite em ponto, eles saltaram...
Nunca ninguém soube ao certo se o plano resultou... mas uma noite destas, eu vou descobrir.

21/07/10

Sonhos

Tu não me conheces...
Eu vivo dentro de uma pauta musical,
Escrevo o que a Lua me diz,
Fotografo com os meus olhos,
Desenho o que não consigo fotografar,
E sonho...
Sonho contigo,
Apesar de também eu,
Não te conhecer.

12/07/10

Desta vez...

Talvez eu não consiga ainda, entrar nos teus sonhos.
Talvez seja dificil contar, cada fio do teu cabelo.
Talvez eu não saiba ainda, pronunciar o teu nome com os meus olhos.
Talvez eu não caminhe no teu ritmo, por enquanto.
Talvez a Lua seja demasiado pesada, para eu a levar até à tua janela.
Talvez... talvez.
Mas de uma coisa, estou certo,
Desta vez, eu vou tentar!!

(... irei?)

06/07/10

Ritual


Respirou fundo...
.
Arrancou o coração,
Deu-o ao mundo...
A dôr, conteve-a,
No mais silêncioso dos gritos.
.
Arrastou-se delicadamente pelo chão.
Olhou para dentro,
Dos seus próprios olhos...
Sorriu,
O sorriso dos tristes.
.
Escutou, no silêncio,
A voz dos Anjos.
Sentiu a pele envelhecer.
.
Voltou a respirar fundo...
.
Por fim,
Ela adormeceu...
Agarrada ao sonho.

29/06/10

A Dança


... e dançamos.
Dançamos entre as palavras não ditas,
Minhas mãos,
Apaixonaram-se pelas tuas.
Bocas coladas,
Olhos sorriam em vez delas.
Dois corpos,
Hermeticamente fechados num só.
... e dançamos.
Dançamos até a noite se ir embora.
E eu que nem sequer sabia,
Que sabia dançar.
 





( voz de @Rmmbarros )

28/06/10

Ilustração


O meu amigo @RodBispo teve a amabilidade ( e muito talento ) de fazer esta ilustração, tendo como inspiração o conto que escrevi "O Rapaz Que Queria Pintar O Céu" ... eu agradeço-lhe aqui publicamente :)

22/06/10

Rewind


Tu...
.
Tu és agora,
Uma folha arrancada,
Do livro da minha vida.
.
Levaste contigo,
As minhas melhores palavras,
Aquelas que inventei para ti.
.
O mais doloroso,
Não foi ter-te perdido,
Foi nunca ter-te tido.
.
Raios, mulher...
Porque insistes em ser feliz,
sem mim?

14/06/10

Arrependimento


Deixou cair o corpo na cama,
A fraca luz,
Oferecida pelo velho candeeiro,
Sua única companhia.
.
Fechou os olhos…
Pensou no beijo.
.
Humedeceu os lábios,
Mordiscou-os,
Procurou o sabor.
.
Tentou lembrar-se…
Queria lembrar-se…
.
Sentiu então amargura na boca…
Era o sabor das lágrimas.
.
Esse beijo…
Esse beijo nunca foi dado.
.
(resposta ao desafio: "arrependimento")

01/06/10

O Rapaz Que Queria Pintar O Céu


Senhoras e senhores, apresento-vos, Zé do Céu… é ele que ali vai… sim, aquele homem de meia idade, magro, de cabelos despenteados e barba de três dias, reparem no macacão que ele tem vestido… está cheio de tinta, mas sobretudo reparem na forma absolutamente tranquila como ele caminha… assobiando para o ar daquela maneira, dir-se-ia que o Zé do Céu acabou de realizar um sonho… e foi isso mesmo que acabou de acontecer.
Mas para melhor entenderem a razão de tudo isto, é necessário recuar na linha do tempo, acompanhem-me, se quiserem, nessa pequena viagem.

José Mário Gonçalves, ou simplesmente, o Zé, nasceu no seio de uma família de artistas, o pai era pintor e a mãe tocava piano.
Sem irmãos, o pequeno Zé, teve de inventar sozinho as suas próprias brincadeiras, uma delas, certamente influenciado pelo pai, era misturar cores.
Nenhuma parede da casa onde o Zé nasceu, tinha apenas uma cor, os grandes espaços pintados com uma só cor, desagradavam-lhe imensamente… e que maior espaço existe, que o céu?
“Não quero o céu azul!” – protestava frequentemente, o pequeno Zé… graças a essas reclamações, um dia ele ganhou a bem merecida alcunha de Zé do Céu.
Enquanto crescia, o miúdo idealizou centenas de “planos infalíveis” para mudar a cor do céu, um desses planos, consistiu em encher um balde com tintas de diversas cores e… atirar a tinta para o ar… suponho que o Zé tivesse a secreta esperança que a tinta ficasse agarrada ao céu… no final do dia , esse “plano infalível” revelou-se uma grande desilusão para o rapaz.
Apesar de todas as “derrotas”, o jovem Zé manteve-se fiel ao seu sonho, ele nunca deixou de acreditar que era possível pintar o céu.
Porém, a linha do tempo, indiferente aos sonhos de cada um, foi avançando, Zé do Céu cresceu, tornou-se escultor, casou e teve um filho, o Pedro.

Quando o Pedro fez 10 anos, Zé do Céu prometeu ao filho que o levaria, no dia seguinte, a um lugar mágico.
Pois bem, esse dia chegou hoje… foi há poucos momentos que o Zé trouxe o Pedro, até este grande e verdejante vale, para lhe mostrar finalmente, a famosa “escultura secreta”, aquela que tanto tempo da vida do Zé do Céu ocupou.
Pedro teve dificuldade em acreditar nos seus olhos… diante dele estava um arco de ferro, mas este não era um arco banal, o arco era tão imenso, que visto desde o chão dava a sensação de tocar no céu.
“É hoje, filho… é hoje que vou pintar o céu!” – disse o Zé sorrindo, enquanto punha as mãos nos ombros do Pedro.
Depois de dar mais um beijo no filho, Zé do Céu pegou em algumas latas com tinta e iniciou a subida do arco.
A conquista do arco foi longa e difícil, a meio do percurso, Zé do Céu sentiu-se cansado, teve de parar… nesse momento, vieram-lhe à memória as muitas dificuldades que teve de superar para construir o arco, lembrou-se do esforço e da dedicação que teve de ter, mas sobretudo, lembrou-se que nunca desistiu… e não seria agora que iria desistir… Zé do Céu olhou para o filho, encheu os pulmões de coragem e com uma energia redobrada, retomou a escalada do arco.

Já no ponto mais alto do arco, Zé do Céu convenceu-se que bastaria esticar o braço para tocar no céu… quando ele tentou esse arriscado movimento, desequilibrou-se… com receio de cair, Zé do Céu agarrou-se rapidamente ao arco, fazendo com isso, com que as tintas escorressem pelo arco abaixo.
O Pedro sentiu a tristeza do pai e temeu pela sua segurança, mas assim que teve a certeza que tudo estava bem, o miúdo esboçou um caloroso sorriso.
Zé do Céu não tinha mais nada a fazer lá em cima, desiludido, desceu lentamente o arco.
Assim que ele tocou terra firme, o filho correu para os seus braços... antes que Zé do Céu dissesse qualquer palavra, Pedro sorrindo, apontou para o arco.
Zé do Céu compreendeu então o entusiasmo do Pedro, e com as palavras carregadas de ternura, disse-lhe: “Filho... os sonhos nem sempre se concretizam como nós os imaginamos... sabes, às vezes, com um pouco de sorte... eles saem até bem melhores. Anda, vamos chamar a tua mãe, tenho a certeza que ela vai gostar de ver o arco.”.
Mais tarde, Zé do Céu homenageou a esposa, atribuindo o nome dela, ao arco... e foi rigorosamente assim que nasceu, o agora famoso, Arco-Irís.
A propósito, vou contar-vos um segredo... diz-se que no fim do arco-irís há um pote de ouro, isso não é verdade, o que tem lá, são as latas de tinta que o Zé do Céu deixou cair... sei disso, porque tenho uma dessas latas em minha casa.

(Dedicado a todas as pessoas que nunca deixaram de acreditar nos seus sonhos)

(resposta ao desafio “não quero o céu azul”)

17/05/10

Sorriso


Se me desses,
Metade desse teu sorriso...
Eu sorriria,
A outra metade...
E então,
Esse passaria a ser,
O nosso sorriso.

10/05/10

Um Sonho


Foste o meu melhor sonho.
Por ti,
Lutei contra o meu próprio exército...
E venci.
.
Revelei-te o segredo,
Do meu melhor truque.
Dei-te,
O que não sabia ter.
.
Foste o meu melhor sonho,
Admito.
Mas ainda assim...
Apenas um sonho.

03/05/10

Aprendiz

Escuta...
.
Sem mentir,
Escondi a verdade.
Perdi alguém... sim.
Eu próprio...
.
Não tremas,
Dá-me a tua mão.
.
Ensina-me a gostar,
A dançar,
Ensina-me a amar.
.
Acredito que sem querer,
Comecei a querer acreditar.
.
(resposta ao desafio "acredito que sem")

26/04/10

Loop


... acordou com o coração cheio de esperança.
Tomou banho, vestiu a roupa escolhida na noite anterior.
Antes de sair, olhou-se no espelho, sentia-se confiante.
Saiu a correr, não queria atrasar-se.
Esperou...
Esperou o tempo suficiente até cair na realidade, não havia ninguém com quem se encontrar.
Era tudo ilusão.
Conformadamente triste, foi trabalhar.
À noite, antes de se deitar, escolheu uma roupa...


(Loop, é uma palavra inglesa, que originalmente significa “aro”, “anel” ou “sequência”, e que no contexto da língua portuguesa é usada com este último significado.)

14/04/10

Neste Momento


Sinto vontade de dar um murro,
Na distância que nos separa.
Deitar por terra,
Esse profano obstáculo.
.
Partilhar contigo,
A Vida.
.
Revelar ao mundo,
O mais sagrado, dos meus segredos...
Tu.

(texto elaborado como resposta ao desafio "Sagrado, Profano")

08/04/10

A Troca


A busca ilusória pelas palavras certas, faz-me sorrir...
Complicar o simples, é estupidamente fácil.
Mergulhar na pretensão,
Potencia o afogamento,
Nas nossas próprias palavras.
.
Mas tu deste-me novos olhos,
E agora, tudo é claro para mim.
.
Vejo o que vês.
.
Em troca,
Dar-te-ei o meu melhor suspiro,
Aquele que sei, libertarei,
Quando fizermos amor,
Pela primeira vez.
.
(texto elaborado, como resposta ao desafio "agora tudo é claro para mim")

31/03/10

Doce Inquietude

Porque me fazes sentir especial?
Porque me dás tanto, quando te peço tão pouco?
Porque insistes em saber de mim coisas, que nem mesmo eu sabia?
.
Porque os meus olhos têm saudades dos teus?
Porque os meus dedos apontam na tua direcção?
Porque a minha boca chora pela tua?
.
Sabes porque escrevo sorrindo?
Porque sei as respostas.

25/03/10

A Cortina


Cumprindo um ritual diário,
Ele aproximou-se da janela... através da cortina, olhou para Ela.
Ela estava linda... Ela estava tão linda, ali, sentada num banco de jardim, com a luz suave do sol matinal a iluminar-lhe o rosto, o cabelo... Ela olhou para a janela... parecendo esperar um sinal.
Com a mão, Ele tocou levemente na cortina, o tecido mexeu-se, quase parecendo dançar, Ela percebeu o movimento e sorriu.
Naquele instante, Ele sentiu uma enorme vontade de arrancar, de rasgar, aquela cortina... mas não conseguiu, não teve coragem de a estragar... sabem, aquela cortina era especial, atrás dela, Ele sentia-se seguro e protegido.
Ele baixou os olhos e suspirou, Ela também.
Quem sabe amanhã...
.
(texto elaborado como resposta ao desafio: usar a palavra "cortina")

16/03/10

Momentos



Momento Um: Escuridão
.
Ontem morri outra vez.
Cruel Destino,
Responde aos porquês,
Do pobre menino.


Momento Dois: Luz
.
O Mundo não caíu.
Tréguas, na verdade,
A Esperança sorriu,
No rosto da Amizade.

(Nunca te esquecerei...)

09/03/10

Esta Noite


Esta noite...
Não consigo ver o teu rosto nos meus pensamentos,
Nas minhas memórias...
Peço ajuda à tua música preferida,
Mas...
Nem assim te consigo ver.
Perdi-te?
.
A porta do quarto abre-se,
Desligo a música,
Pouso a caneta.
Já não preciso delas.
.
Agarro-te com as duas mãos...
Tive saudade tuas,
Esperança.









(voz de @vilmacorreia)

02/03/10

Fim


Esta é a última caneta que gasto por ti,
A última folha que sei que vou rasgar,
A última lágrima...
.
Parar o Mundo,
Para te procurar,
Não foi o suficiente.
.
Não sou tão forte como pensava,
Deponho as minhas armas,
De nada me valeram.
.
Jamais verás o que te escrevi,
Sei disso agora,
Não existes...
Nunca exististe.
.
(texto elaborado como resposta ao desafio "sou tão forte como")








(voz de @isv5)

17/02/10

Confesso

Precisas de mim?
Queres que eu faça alguma coisa por ti?
.
Queres que eu afaste as nuvens, para conseguires ver o Sol a brilhar?
Posso mudar as cores dos dias cinzentos, queres isso?
A Lua... queres que eu pegue nela e a amarre à tua janela?
Devo soprar sobre o teu corpo, nas noites quentes de Verão, quando estiveres deitada na cama?
.
Diz-me... precisas de mim?
É que eu confesso precisar de ti... e tudo o que precisas fazer por mim... é existires.
.
(este texto é a minha resposta ao desafio "confesso")

15/02/10

Nova Imagem

O "Doador de Histórias" mudou de imagem... em breve, novas histórias :)

11/02/10

Hoje faço anos por isso...


Gostaria de oferecer uma fatia de bolo, a todos que passam por aqui, ou no Twitter...
Obrigado
:)

04/02/10

Pequena Folha


Pediram-me para escrever sobre ti numa pequena folha de papel.
.
Tarefa dificil, pois se até o meu sorriso quando penso em ti, é bem maior que essa pequena folha de papel.
Deitei-me num banco de jardim e usei a pequena folha para tapar a luz intensa do Sol, tu és assim... proteges-me, bloqueias as coisas que me podem prejudicar.
Sentei-me no banco, comecei a brincar com a pequena folha, não sei como, acabei por transformar a folha numa estrela, tu também és assim... és a estrela que me guia para o lado bom da vida.
.
Entreguei-te a estrela... isto foi o que eu consegui escrever sobre ti na pequena folha de papel que me ofereceste.

29/01/10

42


Era uma vez um sapato preto, o seu nome era 42. - pelo menos era isso que ele pensava, uma vez que esse número estava inscrito na parte debaixo dele.
42, por motivos que eu próprio desconheço, separou-se do par.
Ele vivia dentro de uma velha caixa de cartão azul... azul-escuro.
Muitas vezes, 42 sentia-se triste, isto porque ele ficava a ver os outros pares de sapatos a passear, e ele estava ali, sozinho.

Farto daquela situação, 42 decidiu tomar uma atitude: ele abandonou a velha caixa de cartão azul... azul-escuro e caminhou pelo Mundo fora… ou melhor, saltitou pelo Mundo fora à procura do par.

A vida de um sapato não é fácil, especialmente se ele estiver sozinho, 42 teve de enfrentar muitos e grandes perigos: fugir de cães estúpidos que adoram roer sapatos, saltar por cima de poças de água contaminada, atravessar passadeiras, e muitos, muitos outros perigos.
No decorrer da viagem, o sapato preto fez amizade com uma sapatilha rosa... ela também andava à procura do par.
Os dois, embora completamente diferentes, entenderam-se e ficaram amigos.
O 42 só não gostava quando a sapatilha decidia correr, é compreensível, os sapatos não foram feitos para correr… acho que a sapatilha sabia disso e corria apenas para ver o ar atrapalhado do amigo sapato.
A amizade entre os dois cresceu e transformou-se em amor… quer dizer, o amor possível entre um sapato preto e uma sapatilha rosa.

Os dois deram o nó, (literalmente) , e caminham actualmente juntos pelo Mundo fora.

Agora eles já não procuram par, querem é demonstrar, com o exemplo deles, que apesar das diferenças é possível às pessoas, ou sapatos, viverem juntos e serem felizes.

Por isso, se algum estranho dia virem um sapato preto, de nó dado, com uma sapatilha rosa, não estranhem... é o 42.

26/01/10

Vidro Riscado



Era uma vez um vidro riscado.
O vidro estava colocado numa enorme porta, de uma enorme sala, que dava acesso a uma enorme varanda... o risco também era enorme.
No meio de toda aquela grandiosidade, o vidro riscado não destoava, era impossível não reparar nele.
Toda a gente que ia aquela casa apontava-lhe sempre o dedo, diziam ser inestético e que aquele vidro riscado tinha de ser substituído.

O vidro riscado não era capaz de esconder a tristeza que tinha dentro si, afinal, que culpa tinha ele de ser assim?
O dono da casa, farto de ouvir toda a gente a falar mal do vidro riscado, tomou uma atitude: chamou um vidraceiro, para substituir o vidro riscado.
O vidro liso, sem riscos, da mesma enorme porta, bem que tentou animar o vizinho riscado, mas foi inútil.

Numa tarde de sol, o dono da casa estava a olhar para a rua, através do vidro riscado, quando uma coisa lhe chamou a atenção.
O risco... o risco no vidro parecia-lhe claramente a forma de uma seta, uma seta que apontava para uma mulher que estava sentada no banco do jardim, lá fora.
Instantes depois o vidraceiro tocou à campainha, ele trazia um vidro imaculado, sem riscos, para substituir o vidro riscado.
O dono da casa olhou para o vidro riscado e, pedindo desculpa, mandou o vidraceiro embora.

Anos mais tarde, o mesmo vidro riscado continua naquela enorme porta, daquela enorme sala, que dá acesso aquela enorme varanda.
Como poderia o dono da casa desfazer-se daquele maravilhoso motivo de conversa? Afinal, foi aquele vidro riscado que o ajudou a encontrar a esposa... ela era a mulher que, anos antes, estava sentada no banco do jardim.

FIM






(Voz de @vilmacorreia)

21/01/10

O Segredo



Vou-te contar um segredo.
Espero que o guardes, pois todos os segredos devem ser bem guardados.


Como qualquer segredo, o meu segredo é tímido durante o dia e extrovertido à noite, principalmente quando dorme.
Ele acha-se muito importante... todos os segredos se acham muito importantes, mesmo aqueles que não têm importância nenhuma (especialmente os que não têm importância nenhuma).
O meu segredo confia em ti, e eu também… como sabes, a confiança é essencial quando se lida com segredos, a confiança é tão importante que se eu não confiasse em ti, não te contava nenhum segredo, quanto mais este.


Bom, na verdade, aquilo que nós (eu e o meu segredo) queríamos que tu soubesses, nós sabemos que tu já sabes… por isso ele será o nosso novo segredo.

18/01/10

Meia-Noite


Esperei pela meia-noite para te escrever... suponho ser a partir dessa hora que sou mais sincero.
Cá vai: um beijo… um beijo, é o que mais desejo que aconteça entre nós os dois.
Pode até parecer uma coisa simples, mas neste momento, esse beijo está tão distante como o céu está da terra.

Mas sabes de uma coisa? Na vida já me aconteceram algumas coisas que eu julgava serem impossíveis, por isso… talvez um dia.

Não quero muito da vida, mas quero-te na minha vida.

13/01/10

Lembro-me de Ti

Lembrei-me de ti agora mesmo.

Sabes, eu lembro-me de ti muitas vezes, só que depois esqueço-me de te dizer isso.
Agora, e para que não me volte a esquecer de ter dizer que me lembro muitas vezes de ti, quero que saibas que lembro-me de ti quando inspiro, e por vezes, quando expiro também me lembro de ti... mas devo-te confessar que isso acontece menos vezes.
Lembro-me de ti quando acordo, desculpa não me lembrar de ti quando estou a dormir.

Lembro-me de ti muitas vezes e apenas queria que soubesses disso.

11/01/10

A Fotografia


Acabei de ouvir as notícias no rádio.
Ao que parece, se hoje as coisas estão mal, no futuro irão estar piores.
Isso fez-me pensar.
Que planos poderemos nós fazer?!
.
Acabei de olhar para uma fotografia tua.
Ao que parece, se hoje gosto de ti, no futuro irei-te amar.
Isso fez-me sorrir.
Quem precisa de planos?!

08/01/10

Fazes-me Rir


Olá… tu fazes-me rir, consequentemente, gosto de estar ao pé de ti.

Acredita quando te digo que não sou uma pessoa de riso fácil.
É claro que tu não sabes disso, porque quando estou ao teu lado, estou sempre com aquele sorriso idiota estampado no rosto... mas se tu fosses outra pessoa, irias constatar que eu não me rio assim tão facilmente.

Claro que para isso ser provado, tu terias de ser outra pessoa... e eu gosto de ti tal como és: uma pessoa que me faz rir.

Suponho que também eu te faço rir, a constante exibição dos teus lindos dentes será uma prova irrefutável disso mesmo... e eu gosto.

PS: gosto quando te irritas, isso também me faz rir… c´est la vie :)

06/01/10

Post Script


Olá… sabes, nunca fui uma pessoa de demonstrar muito aquilo que sinto, mas hoje… bem, hoje é um Dia Especial.
Não sei bem por onde começar… como sempre, não é?
Como daquela vez no cinema, lembras-te?
Mas dessa vez tu estavas ao meu lado, e tomaste tu a iniciativa… ainda me lembro da sensação do primeiro beijo… mas tu não estás aqui agora, ao meu lado, e eu tenho de começar isto de alguma forma.
Espera só mais um pouco… deixa-me recordar o nosso beijo um instante mais… meu Deus, eu tremia por todos os lados.
Apetece-me sorrir.
Mas agora tenho de escrever sobre ti.
Já sei, isto vai soar mal ou piegas, talvez até as duas coisas ao mesmo tempo, mas cá vai: TU ÉS O MEU BEIJO PREFERIDO!


PS: o dia é Especial porque sinto que vai ser hoje que te vou encontrar pela primeira vez.

29/12/09

A Volta Ao Mundo Em 80 Passos


Era uma vez um rapaz.
Certo dia esse rapaz decidiu andar o mais que conseguisse de uma só vez, ele estava convencido de que se não parasse conseguiria dar a volta ao mundo.
Pelos cálculos do rapaz a viagem iria ser longa por isso meteu duas sandes na mochila.
O nome do rapaz era Volt, diminutivo para Virgílio Oliveira de Lima Teixeira.
Era Verão, a manhã estava linda, Volt achou que estava na hora de partir.
Depois de andar escassos metros, Volt encontrou o seu amigo Gurb (também é um diminutivo).

Volt explicou ao amigo a razão pela qual não queria parar de andar, Gurb achou tão interessante a ideia que resolveu acompanhar Volt.
Após andarem milhares de milímetros, algumas dúvidas começaram a aparecer na cabeça de Volt.
VOLT: Gurb, achas mesmo que vamos conseguir dar a volta ao mundo?
GURB: Sei lá, nunca fui até ao fim do mundo.
VOLT: Fim do mundo?!
GURB: Claro, se queremos dar a volta ao mundo primeiro temos de ir até ao fim dele... depois voltámos.
VOLT: Acho que tens razão, nunca tinha pensado nisso assim. Como será que é o fim do mundo?
GURB: Deve ser um sítio sem nada, assim como o deserto mas sem a areia.
VOLT: Olha que não sei, uma vez o meu pai disse-me pra eu nunca me casar porque isso iria ser o fim do mundo pra mim.
GURB: Então se for assim, toda a gente que casou já conhece o fim do mundo.
VOLT: Acho que sim... olha, vai ali a D.Vasm, ela é casada com o homem do talho prai há uns 100 anos, se alguém conhece o fim do mundo tem de ser ela, vamos lá.

Volt e Gurb aproximaram-se da D.Vasm, uma linda mulher de 45 anos de idade, porém essa exacta mulher vista através dos olhos das duas crianças transformava-se numa velha e cansada mulher.
GURB: Olá D.Vasm, a senhora quer que nós a ajudemos a levar essas sacas?
D.VASM: Não é preciso rapazes, a minha casa é já ali, mas obrigado.
VOLT: D.Vasm...
D.VASM: Sim?
VOLT: Como é o fim do mundo?
D.VASM: O fim do mundo?!
VOLT: Sim, a senhora não é casada?
D.VASM: Sou, mas o que é que isso tem a ver com o fim do mundo?
GURB: É que o pai do Volt disse-lhe que as pessoas que estão casadas sabem como é o fim do mundo... e nós os dois queríamos ir até lá...
D.VASM: Querem ir até ao fim do mundo?!
GURB: Sim, mas depois voltámos.
D.VASM: Que grande confusão que por aí vai... casar não é o fim do mundo.
VOLT: Não?!
D.VASM: Claro que não, quando casamos apenas temos de fazer alguns sacrifícios, como não fazer aquilo que realmente gostamos... e temos mais... muitas mais responsabilidades e obrigações...
VOLT: Bolas, isso a mim parece-me mesmo o fim do mundo.
D.Vasm despediu-se dos rapazes e entrou em casa.
GURB: Támos tramados! Como é que vamos dar a volta ao mundo se não sabemos onde é o fim dele?

VOLT: Tenho uma ideia, já sei quem é que nos pode ajudar.
GURB: Quem?
VOLT: O Padre Zorb. Vamos ter com ele à igreja.
Os dois companheiros de viagem partiram na direcção da igreja na esperança de encontrarem uma resposta.
Gurb começava a demonstrar algum cansaço, tanto físico como psicológico, o miúdo não estava habituado a fazer tanto esforço de uma só vez.
As duas sandes que Volt trazia na mochila foram ferozmente devoradas pelos miúdos, afinal eles mereciam, já tinham conseguido andar uns 60 passos.
Volt e Gurb entraram na igreja, o Padre Zorb estava lá dentro ajoelhado a rezar.
VOLT: Olá, Padre Zorb.
P.ZORB: Olá meninos… porque é que vocês não param de andar à minha volta… é algum jogo?
GURB: Padre Zorb, precisamos da sua ajuda.
P.ZORB: Em que é que vos posso ajudar… querem confessar os vossos pecaditos, é?
VOLT: Não, é coisa séria. Precisamos que o Padre Zorb nos diga onde é que fica o fim do mundo.
P.ZORB: Louvado seja o Senhor!
GURB: É muito longe daqui?
VOLT: O Padre Zorb deve saber onde é que ele fica, nos seus sermões está sempre a falar nele… diga, é perto da escola?
GURB: É ao lado da casa do chato do Marlk?
VOLT: Já lá esteve?
O pobre do Padre Zorb ficou tão atordoado, quer pelas perguntas quer por os dois rapazes andarem sempre à sua volta, que acabou por desmaiar.

Assustados, Volt e Gurb saíram rapidamente da igreja e foram procurar alguém que pudesse ajudar o inconsciente Padre Zorb.
A primeira pessoa que os miúdos viram foi uma prostituta que andava a passear na rua, consta que na altura os rapazes ainda não sabiam exactamente o que uma prostituta tem de fazer para ganhar dinheiro.
GURB: Senhora… senhora…
PROSTITUTA: O que foi pequeno?
GURB: Precisamos da sua ajuda…
PROSTITUTA: Vocês não acham que são novos demais para terem ajudas minhas?
VOLT: A ajuda não é pra nós, é pró Padre Zorb.
PROSTITUTA: Um padre precisa dos meus serviços? Não era a primeira vez mas é sempre de uma pessoa ficar admira…
VOLT: É urgente senhora, ele está estendido no meio da igreja.
PROSTITUTA: Na igreja?! Isso é novo para mim, mas um cliente é um cliente… obrigado rapazes, eu vou dar uma ajudinha ao vosso amigo… xau.
GURB: Porque é que ela disse que o Padre Zorb era um cliente?!
VOLT: Sei lá, coisas de adultos… olha pr’ali, tas a ver o mesmo que eu?

GURB: Acho que sim.
Os dois rapazes nem queriam acreditar naquilo que estavam a ver.
Diante deles, a olhar perdidamente de um lado para o outro enquanto caminhava apressadamente, estava nem mais nem menos que o Presidente do Clube de Futebol do Porto, o mítico Costa e Pinto.
Volt e Gurb já tinham ouvido histórias fantásticas sobre ele por isso aproximaram-se cheios de emoção.
VOLT: Olá… o senhor não é o Presidente Costa e Pinto?
PRESIDENTE: É berdade, sou eu.
GURB: Uau! Podia-nos dar o seu autógrafo?
PRESIDENTE: Poder, podia mas não o bou fazer, tou muito ocupado… ando à procura do fim do mundo.
GURB: Que grande coincidência Presidente, nós também… mas pra que é que o senhor anda à procura dele?
PRESIDENTE: Bocês prometem que não dizem nada a ninguém?
VOLT: Claro que não, somos crianças, a nossa especialidade é guardar segredos.
PRESIDENTE: Bou confiar em bocês… bom, prestem atenção, eu ando à procura do fim do mundo porque…

Por motivos que se prendem com questões legais, nunca se soube ao certo porque é que o Presidente Costa e Pinto andava à procura do fim do mundo, isso é ainda hoje um mistério.
Volt e Gurb começavam a ficar realmente cansados e acima de tudo com fome… muita fome.
Desgraçadamente os cálculos que Volt tinha feito saíram furados, afinal as duas sandes que ele tinha previsto serem suficientes para dar a volta ao mundo, tinham-se revelado escassas.
Felizmente naquele tempo a comida macrobiótica ainda não tinha sido inventada e na rua, à frente dos miúdos, caminhava um alegre vendedor de cachorros quentes.

À medida que os dois infantes se aproximavam do vendedor de cachorros quentes, um enorme sorriso de satisfação começou a surgir no rosto de cada um deles, o sorriso não era porque os miúdos iriam comer qualquer coisa, mas porque finalmente e após terem percorrido uma boa dezena de metros sem parar, eles tinham encontrado o tão ambicionado fim do mundo.

Perante aquilo que estava escrito no carrinho (“CACHORROS-QUENTES DO FIM DO MUNDO”), eles não tiveram dúvidas que o objectivo daquela expedição tinha sido alcançado.
Quem diria que o fim do mundo poderia estar dentro de um carrinho de cachorros quentes?
Volt e Gurb cheios de um orgulho plenamente justificado deram triunfalmente uma volta ao carrinho e foram felizes para casa.

O mais difícil para os dois amigos, até mais que encontrar o próprio fim do mundo, foi convencer as famílias e amigos de que eles tinham realmente conseguido dar a volta ao mundo em 80 passos (os 80 passos foram calculados pelo Volt, logo, grande probabilidade de erro).

16/12/09

A Pior História de Natal do Mundo


Há muito, muito tempo… mas mesmo muito tempo atrás… tipo, a semana passada, aconteceu-me uma coisa que para sempre modificou o rumo da minha vida.
Na verdade, não aconteceu nada a semana passada, pelo menos nada que “para sempre modificasse o rumo da minha vida”, mas achei que era uma boa maneira de começar esta história de Natal… sim, isto é uma história de Natal.

Era Dezembro, aproximava-se a altura das compras, eu, corajosamente, decidi pedir uns dias de férias lá do trabalho.
Após algum tempo de negociações, este foi o acordo a que eu cheguei: do dia 17 ao dia 22 de Dezembro, eu não iria trabalhar… na realidade, esse período de tempo foi alargado para “tempo indefinido”, ou seja, fui despedido.

AVISO: Cuidado com a forma como pedem férias. Não o façam se nesse dia estiverem embriagados.

Sem trabalho, tive muito tempo para planear a ida às compras, só me faltava arranjar o dinheiro.
Saí à rua, olhei para cima, e pedi um sinal ao senhor… um sinal de “STOP” caiu-me na cabeça. Eu, educadamente, agradeci ao tipo que estava em cima de um camião, a descarregar sinais de trânsito.
Com uma valente enxaqueca, fui até à farmácia mais próxima, que por acaso ficava a 12 Km de distância.
Cheguei lá e já não me doía a cabeça, agora doía-me o corpo todo, andar a pé é uma merda.
A farmacêutica receitou-me uns maravilhosos comprimidos, que tomei imediatamente. Foi então que vi um elefante azul a levitar em cima de um tapete indiano… juro.
Fosse o que fosse, eu estava curado, ou pelo menos assim o pensava.
Mal saí da farmácia notei algo diferente em mim, eu… eu tinha uma enorme barba, estava velho, gordo… e que raio de fato vermelho era aquele?!

Sim, eu sou o Pai Natal e esta é, provavelmente, a pior história de Natal do Mundo.

15/12/09

Feliz Natal!

(Esta apresentação foi inspirada por uma história que escrevi, chamada "A Mais Pequena História de Natal do Mundo")

14/12/09

O Presente


“Ouve…
Tu és a minha melhor lembrança, o meu presente mais desejado… o único presente que realmente desejei.
És a minha esperança, a razão deste meu sorriso… tu és a minha luz, a minha estrela pessoal.
Se eu não te tivesse… olha, se eu não te tivesse, seria como o Mundo sem Natal… entendes, filho?”

(Texto elaborado como resposta ao desafio “E se não houvesse Natal?” – a @isv13 do Twitter também participa, http://oladocultodamarciana.blogspot.com/2009/12/o-livro-branco.html )

11/12/09

Era Uma Vez Uma Música


Era uma vez uma música... na verdade, ela ainda nem sequer era uma música propriamente dita, era mais uma melodia, uma pequena e simples melodia, que ansiava por crescer rapidamente, para ver, ou melhor, ouvir, naquilo em que se iria transformar quando crescesse.


Naquele tempo, só ainda existiam dois ou três tipos de música conhecidos; havia o Jazz, o Rock e a música Sacra.
A jovem melodia rezava todos os dias, para não se transformar em música Sacra (doce ironia).



Certo dia, quando a melodia ia a sair da escola de música, deu de caras com uma cena nova para ela; ela viu uma Clave de Sol, agarrada aos beijos, a um Dó Menor.
A pequena melodia, timidamente escondeu-se atrás de uma Pauta Musical, e ficou a ouvir, em silêncio, o que as Notas Musicais diziam.

Instintivamente, e sem se conseguir controlar, a pequena melodia começou a tocar uma espécie nova de música... o som era cada vez mais alto.
Pouco depois, centenas de Notas Musicais, começaram a surgir do nada, todas correram para ouvir aquele novo estilo de música.


E foi assim, sem tirar nem pôr, que nasceu a música Romântica.

09/12/09

Enfim...


O mais normal, típico, clássico, usado e pouco original era começar esta história com um: "Era uma vez, há muito, muito tempo...", porém, esta história não vai, nem pode começar dessa forma pela simples e lógica razão que ela se passa numa altura em que as palavras ainda não tinham sido inventadas.
Quem reinava nesse tempo eram os sinais gramaticais, ou melhor, alguns sinais gramaticais, nomeadamente aqueles que no futuro iriam ser independentes das palavras, por isso e para facilitar (ou não) o enredo os próximos sinais gramaticais "independentes" que surgirem na narrativa não devem ser entendidos como sinais mas como "coisas" que outrora dominaram o Mundo.

Tudo começou quando o ! e a , um jovem casal de pontos tiveram 3 lindos filhos os ...
Apesar de à primeira vista os 3 irmãos parecerem iguais eles tinham uma particularidade que os distinguia o . era azul o . era verde e o . era vermelho
O . azul talvez por ter sido o primeiro a nascer era visto como uma espécie de líder pelos irmãos para onde quer que ele fosse os .. seguiam-no fielmente
Por ainda não existirem palavras escritas os ... viviam felizes e descontraidamente eles gostavam particularmente de ficar a ouvir durante horas a fio as aventuras contadas pelo avô ? normalmente ele contava episódios da vida de quando era ainda um jovem e possante ! os ... deliravam com as façanhas do avô ?
Durante a fase sempre difícil e problemática da adolescência os ... tiveram como amigos um engraçado : e uma jovem e cada vez mais sensual ;
Apesar de não querer admitir o . vermelho sempre teve uma paixão secreta pela ; ele corava imenso sempre que estava ao pé dela no entanto ; simpatizava mais com o . verde

O tempo foi passando e quem acabou por casar com a ; foi o : o resultado dessa união foi o nascimento daquele que seguramente iria ser o mais arrogante de todos os pontos gramaticais o .
Tal como gigantesca nuvem provocada por um incêndio o reinado dos sinais gramaticais "independentes" estava a ficar muito negro a razão disso foi o aparecimento das primeiras palavras elas começaram a surgir do nada e ao principio andavam soltas parecendo inocentes mas depois descobriram que poderiam ter mais importância se elas se juntassem umas às outras e foi assim que nasceram as primeiras frases
As frases já não satisfeitas por serem apenas uma junção de palavras começaram a ficar gananciosas

Elas começaram a caçar literalmente todos os sinais gramaticais e depois domesticavam-nos
Os ... assustados com a fúria das frases fugiram para o mais longe que conseguiram
As frases tornaram-se cada vez mais fortes e acabaram por dominar o Mundo
Não houve resistência possível os ? passaram a ser usados em frases quando se queria perguntar alguma coisa e os ! foram usados para dar ênfase a determinadas frases
Muito pior sorte tiveram as , elas foram as que mais sofreram nas mãos das frases as pobres , foram abusadas e eram obrigadas a ficar no meio de palavras sem sentido
O destino dos : e ; também não foi fácil no entanto muito anos mais tarde eles viriam a servir para uma coisa bem agradável a possibilidade de se fazerem bonecos nas redes sociais da Internet.

O . tal como esperado tornou-se autoritário e snob tanto que não permitia que mais nada fosse escrito a seguir a ele

Passaram-se muitos anos até que finalmente os ... resolveram sair do esconderijo o tempo tinha tornado os outrora ... coloridos em ... monocromáticos
O Mundo estava tão diferente desde a última vez que os ... o tinham visto que eles sentiram-se deslocados e excluídos parecia que eles não faziam falta a ninguém nenhuma frase ou palavra queria ter os ... por perto
Eles foram até gozados pelos antigos amigos de infância o : e a ;
Os ... pareciam condenados ao esquecimento até que um dia uma palavra os decidiu ajudar essa palavra era o "enfim" ela achou que "enfim..." soava melhor e usou os ... pela primeira vez
Não tardou a que muitas outras palavras e frases começassem a usar os ... ainda não se sabe ao certo o porquê do uso dos ... porque no fundo eles não servem para nada mas isso não é importante o que é importante é que os ... ficam bem em qualquer lugar ...

07/12/09

Era Uma Vez Um Poema


Era uma vez um poema,
Daqueles que rimam no fim,
E isto sem qualquer esquema,
Pois um poema é mesmo assim.

Nasceu em Março,
Era um poema muito dado,
Gostava de um bom abraço,
E de ouvir Fado.

Porém,
Um quadro negro o amor lhe pintou,
E nunca conheceu nenhuma fadista,
Em vez disso uma rapariga ele namorou,
Que em Boxe era especialista.

Coitado,
Apanhou tamanha pancadaria,
Que certa noite deixou até de rimar,
“Que se lixe” – disse ele já na escadaria,
“Vou-me pirar!”.

A história desta Poema foi assim,
De bonito nada tem,
E agora que chegou ao fim,
Resta-me escrever “adeus, passem bem.”

30/11/09

Porque cai a chuva do céu

Não muita gente sabe disto…
Uma das tarefas de um Anjo da Guarda, é encontrar a “cara-metade” do seu protegido.
Os Anjos fazem tudo que está ao seu alcance, para que isso aconteça…
Mas até um Anjo, só pode fazer as coisas, até um determinado grau.

Assim,
Sempre que duas almas gémeas, encaminhadas pelos respectivos Anjos, se cruzam, mas não reparam uma na outra, os Anjos choram…

É por isso que a chuva cai do céu.

(Texto elaborado como resposta ao desafio: Porque cai a chuva do céu?)

25/11/09

O Vento


Margarida pegou delicadamente no frasco do seu perfume predilecto e deixou cair duas gotas dele numa folha de papel onde acabara de escrever um poema de amor destinado ao... destino.
A extrema timidez e insegurança fizeram dela uma mulher sentimentalmente só, “resta-me sonhar” – costumava dizer ela às suas amigas, já quase todas casadas e com filhos.
Seguindo um ritual que criara há algumas semanas, Margarida atirou a folha perfumada pela janela do seu quarto ficando depois a olhar para ela até a perder de vista.
Secretamente Margarida tem a esperança que o vento se encarregue de levar aquelas palavras de amor até ao seu príncipe encantado.

Não muito distante dali, Miguel olhou uma vez mais para a fria carta de despedimento depois direccionou toda a sombria tristeza para a forte corrente do rio que passava por baixo daquela velha e abandonada ponte.
No momento em que Miguel ia a desistir de tudo, um capricho do vento ou do destino, fez com que a folha escrita por Margarida fosse ter aos seus pés.
O doce aroma emanado daquele pequeno papel levou a que Miguel pegasse nele.

As palavras doces e repletas de encantamento derramadas por Margarida naquele pedaço de esperança tocaram profundamente o Miguel.
O jovem homem virou costas ao terrivel propósito que o tinha arrastado até àquele inóspito local e agarrando-se à folha como se de uma bóia de salvamento se tratasse, jurou que iria tentar encontrar o autor ou autora daqueles versos pois foram eles que lhe salvaram a vida.

Miguel apostou na sorte, talvez se caminhasse contra a força do vento encontrasse alguma espécie de pista, pensou ele.
Irónico, o mesmo vento que lhe trouxe a esperança tornou-se naquele momento num obstáculo.
A busca de Miguel resultou infrutífera, contudo ele não estava disposto a ceder facilmente, nos dias que se seguiram ele retornou à velha ponte esperando que o vento voltasse a trazer nas suas marés novos pedaços de ilusão.

Numa dessas ocasiões, Miguel avistou uma criança a brincar com um barco de papel junto à margem do rio.
Os pais da criança, sentados na relva, estavam a conversar distraidamente quando o barco se afastou, o miúdo ao tentar agarrá-lo desequilibrou-se e caiu ao rio.
Vendo aquilo, Miguel lançou-se imediatamente à água e salvou o rapaz que entretanto agarrara o barco.
O pai da criança agradeceu ao Miguel aquele gesto e deu-lhe um cartão dizendo para caso o Miguel precisasse de alguma coisa para o procurar.
Quando Miguel se despediu do miúdo, este sorriu e deu-lhe o barco de papel.
Já sozinho, Miguel começou a olhar com curiosidade para o tosco barco e notou que nele tinham sido escritas palavras, palavras que lhe pareciam familiares, apesar de o papel estar molhado Miguel não teve dúvidas, aquele era mais um dos poemas de Margarida, seria aquilo um sinal?

Inesperadamente uma sorrateira rajada de vento roubou-lhe o papel das mãos, Miguel correu atrás da pequena folha, nessa altura ele cruzou-se com uma pessoa... uma mulher, o perfume dela fez com que Miguel parasse de correr, aquele cheiro era-lhe familiar.
Durante alguns instantes ele ficou na dúvida entre tentar conversar com aquela mulher que caminhava cabisbaixa ou continuar a seguir o poema... Miguel optou pela segunda hipótese.

O tempo, curador de males e insensível na mesma dose foi passando... decorreu uma semana desde aquele episódio.
Durante esses dias Miguel não encontrou uma palavra que fosse de Margarida.
Ele achou que estava na hora de seguir em frente com a vida, encheu os pulmões de coragem e marcou uma reunião com o Dr. Aguiar, pai do miúdo que ele tinha salvo de se afogar, um emprego era agora o objectivo de Miguel.

Na reunião, o Dr. Aguiar disse que Miguel estava com sorte uma vez que tinha surgido recentemente uma inesperada vaga para trabalhar na empresa, Miguel ficou encantado com a notícia.
Amavelmente o Dr. Aguiar levou o Miguel a conhecer o escritório disponível, assim que lá entrou Miguel sentiu no ar uma fragrância conhecida, a mesma emanada das folhas escritas por Margarida, intrigado Miguel perguntou o que tinha acontecido à pessoa que trabalhava ali.
O Dr. Aguiar “fechou a cara” e com uma voz pesarosa contou que essa pessoa tinha tido um final trágico, ela suicidou-se atirando-se de uma ponte, precisamente no dia e no local onde o Dr. Aguiar e o Miguel se tinham conhecido.

Uma lança afiada pareceu trespassar o coração de Miguel naquele momento, ele ficou pálido e teve de se sentar.
A sua memória foi iluminada como que por relâmpagos de imagens difusas da mulher que ele tinha visto a dirigir-se para a ponte naquele dia.
Alarmado com o estado de Miguel, o Dr. Aguiar foi apressadamente buscar um copo com água para o acalmar.
Miguel não esperou... movido por uma inesperada e incontrolável força levantou-se, saiu daquele lugar a correr e só parou em cima da velha ponte.
A vida tem coisas curiosas, o mesmo local pode significar o começo ou o fim, a esperança ou a desistência.
Miguel ergueu o olhar para o céu, talvez tentando encontrar alguém a quem deitar as culpas, sorriu ironicamente e depois pegou na folha de papel com o último poema de Margarida que havia encontrado.

Farto de sonhar, ele tentou atirar a folha ao rio mas o vento não o permitiu, uma estranha corrente de ar elevou-a e fez com ela fosse “bailando” suavemente até perto de uma mulher que estava sentada debaixo de uma árvore a observar o Miguel.
A mulher pegou na folha e leu o poema, Miguel viu depois essa mulher a aproximar-se dele com a folha na mão.
Em cima da ponte e parecendo que o vento os estava a unir, a mulher timidamente apresentou-se, o nome dela era… Margarida, a autora daquele poema.

24/11/09

Traído...


Traído pela tinta da caneta,
O pensamento ficou preso em mim.
Traído pela tinta da caneta,
Porque raio chegaste agora ao fim?
.
Genial,
Esse pensamento poderia ser...
Talvez até brilhante como um cometa,
Mas isso nunca ninguém irá saber,
Porque fui traído pela tinta da caneta.

17/11/09

1000 Coisas


Eu,

Eu podia ter 1000 coisas,
Eu podia pensar em 1000 coisas,
Eu podia ver 1000 coisas,
Eu podia ouvir 1000 coisas,
Eu podia gostar de 1000 coisas.

No entanto,
Eu,
Só te tenho a ti,
Só penso em ti,
Só te vejo a ti,
Só te ouço a ti,
Só gosto de ti.

Porém tu,

Não me queres ter, a mim,
Não pensas em mim,
Não me vês, a mim,
Não me ouves, a mim,
Não gostas de mim.

Por isso,

Vai... pentear macacos, mil macacos,
Vai... dar banho ao cão, mil cães,
Vai... dar uma volta ao bilhar grande, mil voltas,
Vai... caçar gambuzinos, mil gambuzinos,
Vai... encher sacos de nevoeiro, mil sacos.
.
(este texto foi enviado por mim, via email, para uma ex-namorada minha... 1000 vezes enviado)

13/11/09

Rimas Desinspiradas


Doce Inspiração,

Porque Me Abandonaste?

Foi Por Causa Desta Constipação?

Nunca Te Constipaste?



Quero-te Aqui,

Eu Preciso De Ti,

Não Me Deixes Assim,

É Dificil Rimar... Atchim!



... Vês ?

09/11/09

Parábola dos Dois Montes


Todos os dias, quer estivesse sol, chuva, vento, frio ou calor... todos os dias, ininterruptamente, durante 57 anos, um velho homem de 72 anos, subia ao cume do monte mais alto da sua aldeia e sentando-se sempre na mesma pedra, ficava a contemplar em total silêncio o horizonte.

Na realidade o homem concentrava toda a sua atenção num ponto específico: o monte mais alto da aldeia vizinha, onde um outro homem, sensivelmente da mesma idade, realizava o mesmo ritual de subir ao cimo do monte todos os dias.


Religiosamente, os dois homens, passavam duas horas do dia simplesmente a olharem-se ao longe.


As duas aldeias, fartas de não obterem qualquer tipo de explicação para aquele estranho fenómeno, decidiram pôr os dois velhos frente a frente pela primeira vez.

Assim, a meio caminho entre as duas aldeias, e com as respectivas populações presentes em peso, os dois homens foram postos cara a cara.

Todos aguardavam com enorme expectativa pelo desvendar do mistério.


Os dois velhos olharam-se nos olhos... fizeram uma pausa e depois, subitamente, desataram a chorar desalmadamente.


Sabem, apesar de todos aqueles anos, os dois homens nunca se tinham visto de perto, na verdade eles julgavam que a pessoa que estava sentada no outro monte era… uma mulher.


Sem saberem como, nem porquê, os dois apaixonaram-se por aquela imagem.


Eles viveram décadas na ilusão de que “ela” era a mulher das suas vidas, e que mais cedo ou mais tarde, “ela” iria tomar a iniciativa de se aproximar.


Foi um dia duro aquele, para os dois velhos homens, contudo isso também serviu para que eles aprendessem, e ao mesmo tempo ensinassem, uma grande lição de vida: não se pode passar uma vida inteira a fantasiar, às vezes, digo, muitas vezes, é bem melhor tomar a iniciativa e arriscar.




Desde aquele dia, nunca mais ninguém foi visto sentado no cimo daqueles montes… até eu aparecer.

04/11/09

A Mais Pequena História de Natal do Mundo


Era uma vez um velho pedaço de papel reciclado, o seu sonho… sim, os papéis também têm sonhos, mesmo os reciclados. O sonho dele era ser útil.

O velho papel reciclado percorreu milhares de quilómetros, literalmente ao sabor do vento.

Durante essa longa viagem, o pedaço de papel reciclado, viu e ouviu muita coisa... mas de que vale ser um papel, se não se pode escrever nele aquilo que se vive ou viveu?


Certo dia, o já amarelecido pedaço de papel reciclado, ficou preso numa árvore, “é o fim!”- pensou ele.

De facto, que utilidade poderia ter um velho pedaço de papel reciclado no topo de uma árvore?


Pois bem, foi precisamente esse pedaço de papel reciclado, que chamou a atenção de uma criança para aquela árvore.


E lá está ele agora, o velho pedaço de papel reciclado foi "transformado" numa bela estrela de papel, e enfeita agora, o topo da árvore de Natal da família daquela criança.


Velho… reciclado?! Sim, mas orgulhosamente útil e feliz.